REFLEXÕES
Meu sonho não tem fim ............................................................... 10
A águia e a galinha ...................................................................... 13
A balança ..................................................................................... 14
A bolsa com batatas ..................................................................... 16
A carroça vazia ............................................................................ 17
A força de um gesto de carinho ................................................... 18
A grandeza de um pequeno gesto ................................................ 20
A importância do horizonte ......................................................... 22
A inveja e a competência ............................................................. 23
A janela ........................................................................................ 25
A lenda do monge e do escorpião ................................................ 27
A lição do jardineiro .................................................................... 28
A menina e o cão .......................................................................... 29
A panela de sopa .......................................................................... 31
A pedra no caminho ..................................................................... 32
A porta mais larga do mundo ....................................................... 34
A porta negra ................................................................................ 36
A princesa Nola ............................................................................ 37
A verdadeira riqueza .................................................................... 39
A vida é um espelho ..................................................................... 40
Amor em uma lata de leite ........................................................... 42
Aquilo que o coração carrega ...................................................... 43
As cicatrizes do descontrole ........................................................ 44
As lições de um lápis ................................................................... 46
As pequenas dádivas .................................................................... 48
As quatro estações ........................................................................ 51
As três peneiras ............................................................................ 52
Auxílio mútuo .............................................................................. 53
Cenouras, ovos e café .................................................................. 55
Construindo pontes ...................................................................... 57
Dando o melhor ............................................................................ 58
Deficiências .................................................................................. 59
Duas crianças ............................................................................... 60
Duvidando da existência de Deus ................................................ 61
Eco ou vida .................................................................................. 62
Enfrentando os obstáculos ........................................................... 64
Esopo e a língua ........................................................................... 65
Estrela do mar .............................................................................. 67
Eu ouvi um não ............................................................................ 68
Flores na estrada .......................................................................... 69
Francisco e o lobo ........................................................................ 71
Gratidão ........................................................................................ 73
Lençóis sujos ................................................................................ 75
Lição de criatividade .................................................................... 76
Mais cinco minutos ...................................................................... 77
Matando uma criança ................................................................... 78
Mundo virtual ............................................................................... 79
O amor ......................................................................................... 81
O amor de uma mãe no inferno .................................................... 83
O barqueiro .................................................................................. 85
O cavalo e o fazendeiro ................................................................ 86
O céu e o inferno íntimos ............................................................. 87
O estranho homem tatuado .......................................................... 88
O furo no barco ............................................................................ 91
O garoto e a flor ........................................................................... 92
O homem triste ............................................................................. 94
O lenhador e a raposa ................................................................... 95
O monge e a prostituta ................................................................. 96
O náufrago ................................................................................... 98
O pacote de biscoito ..................................................................... 99
O plantador de árvores ................................................................. 100
O poder da gentileza .................................................................... 101
O presente mais especial .............................................................. 103
O rei e a camisa ............................................................................ 105
O reino a que você pertence ......................................................... 107
O sorriso de Deus ......................................................................... 109
O último dos mortais .................................................................... 110
O vendedor de balões ................................................................... 111
O veredicto ................................................................................... 112
O zelador da fonte ........................................................................ 114
Pare, por favor! ............................................................................ 116
Pedaço de carvão .......................................................................... 118
Persistência e fé ............................................................................ 120
Pés grandes, coração enorme ....................................................... 122
Quando a bondade se expressa .................................................... 123
Reconhecimento ........................................................................... 125
Reconstruindo o mundo ............................................................... 127
Riqueza e pobreza ........................................................................ 128
Sem julgamentos .......................................................................... 130
Ser feliz é uma decisão ................................................................ 132
Telha de vidro .............................................................................. 133
Trabalhar com alegria .................................................................. 135
Três dias para ver ......................................................................... 137
Um certo homem .......................................................................... 139
Um coração de ouro ..................................................................... 141
Uma lição de amor ....................................................................... 148
Uma lição de perdão na escravidão ............................................. 149
Uma oferta caridosa ..................................................................... 151
Uma sólida amizade ..................................................................... 153
Uma virtude valiosa ..................................................................... 156
Um presente valioso ..................................................................... 143
Uma casa no caminho .................................................................. 145
Uma taça de sorvete ..................................................................... 155
INTRODUÇÃO
O que buscamos nesta vida?
O que realmente é importante para nós?
Certamente a essência de nossa existência, não é apenas a busca
de nossa satisfação individual, buscando aproveitar ao máximo
todos os nossos dias. A vida tem que ser muito mais do que isso.
Obviamente, existe um sentido melhor e muito maior para vivermos.
Certamente, estamos nesta vida por diversos motivos, alguns
essenciais, como evoluirmos como indivíduo.
O crescimento material e econômico é natural e não é pecado
algum vivermos bem, com conforto. Porém, devemos ter consciência
de que todos os nossos bens, na verdade, não são nossos, são empréstimos.
Jamais devemos desperdiçar as oportunidades que a vida nos
dá para nos aprimorarmos e evoluirmos como pessoas.
Muitas vezes, nossos fracassos são nossos melhores professores
e são nestes momentos mais difíceis, que necessitamos encontrar
uma razão maior para continuarmos em frente, em nossa luta. Nossa
superação, em certos momentos com suor e lágrimas, faz com que
nos tornemos pessoas melhores. A capacidade de resistir ao desânimo,
as tentações, privações e tristezas, continuando em nosso caminho
evolutivo, é o que nos torna pessoas especiais.
Os “grandes sonhadores”, a essência de nosso trabalho de
conscientização e motivação - cujos pensamentos vocês conhecerão
um pouco mais, expressos nas frases que encerram cada reflexão incluída
nesta obra - não vieram entre nós apenas com a missão de juntar
dinheiro e comer do bom e do melhor. Alguns deles até tiveram
este privilégio, no entanto, esta não era a razão de suas vidas.
É muito difícil imaginar pessoas como Martin Luther King,
Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Albert Schweitzer, Irmã Dulce,
Betinho, Bezerra de Menezes, Chico Xavier e tantas outras, que
constam neste livro ou milhares de outras anônimas, que lutaram e
lutam para melhorar a vida dos mais fracos, motivadas pela idéia de
ganhar dinheiro.
O que moveu essas pessoas, tão generosas a trabalhar, diariamente,
por toda suas vidas pelos menos favorecidos e pelo bem comum,
sem jamais desistir, foi a busca de seus sonhos, de um mundo
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 7
melhor, mais justo e fraterno. Quando você tem sonhos com essa
magnitude, essa grandeza de espírito, você desenvolve uma força
extra, capaz de levá-lo à lugares inimagináveis.
Infelizmente, muitos de nós se perdem nesta viagem e acabam
distorcendo o sentido de sua existência. Focando todos os seus esforços
apenas para acumular bens materiais durante toda a sua vida.
Entretanto, quando suas histórias chegam ao fim, percebem que não
poderão levar daqui suas riquezas e que a única coisa que se leva
dessa vida, é o bem que fazemos ao próximo.
Espero que, além dos pensamentos de nossos “grandes sonhadores”,
as reflexões e parábolas de domínio público, contidas neste
livro e selecionadas entre milhares de textos utilizados por esta organização
em mais de duas décadas de existência, faça-os refletir ainda
mais sobre a realidade de nossos irmãos excluídos, esquecidos e infelizes.
Uma situação que, infelizmente, em diversas ocasiões, passa
desapercebida, pois, muitas vezes, a triste realidade de nossos semelhantes
é uma tragédia a conta-gotas, dispersa, silenciosa, escondida,
desde os humildes rincões e majestosas fazendas das áreas rurais até
as periferias e condomínios de luxo das grandes cidades. Fica lá, tão
escondida e esquecida, que aqueles que têm condições dignas de sobrevivência,
liberdade, paz e principalmente, são felizes, não enxergam
seus irmãos famintos, enclausurados e infelizes. Para muitos de
nós, estes males se transformaram em números, estatísticas, como se
não trouxessem juntos histórias, nomes e seus dramas.
Agora é o tempo para transformarmos em realidade nossas
promessas de melhorarmos como seres humanos e filhos de Deus, de
subirmos do vale das trevas da intolerância, injustiça e indiferença
para com nosso semelhante, ao caminho iluminado pelo sol da justiça,
compreensão, bondade e fraternidade.
Enquanto você lê a introdução desta obra, o mundo contabiliza
mais algumas centenas de mortes, vítimas da fome, da pobreza, da
opressão e da infelicidade. Para muitas famílias mais um luto, mais
uma perda irreparável, para nós, como humanidade, um pouco mais
de nosso maior tesouro se perdendo, pela indiferença, ganância e
crueldade dos mais poderosos e abastados, e principalmente, pela
conformidade e descaso, pois, como já dizia o saudoso e inesquecível
Martin Luther King, “nós não lamentamos tanto os crimes dos
perversos, quanto o estarrecedor silêncio dos bondosos”.
As 8 reflexões de um sonho que não tem fim
Ninguém jamais poderá ser plenamente feliz e realizado, vendo
o sofrimento de seu semelhante.
Boa leitura.
Alex Cardoso de Melo
A ÁGUIA E A GALINHA
Um camponês criou um filhote de águia junto com suas galinhas,
tratando-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo
que ela pensasse que também era uma galinha.
Dava a mesma comida jogada no chão, a mesma água num
bebedouro rente ao solo, e fazendo-a ciscar para complementar a alimentação,
como se fosse uma galinha.
E a águia passou a se portar como se galinha fosse.
Certo dia, passou por sua casa um naturalista, que vendo a águia
ciscando no chão, foi falar com o camponês:
– Isto não é uma galinha, é uma águia!
O camponês retrucou:
– Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!
O naturalista disse:
– Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa.
Levou-a para cima da casa, elevou-a nos braços e disse:
– Voa, você é uma águia, assuma sua natureza!
– Mas a águia não voou, e o camponês disse:
– Eu não falei que ela agora era uma galinha!
O naturalista disse: amanhã veremos.
No dia seguinte, logo de manhã, eles subiram até o alto de uma
montanha. O naturalista levantou a águia e disse:
– Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima e os campos
verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas.
Desperte para sua natureza, e voe como águia que és.
A águia começou a ver tudo aquilo e ficou maravilhada com a
beleza das coisas que nunca tinha visto, ficou também confusa no
início, sem entender o porquê tinha ficado tanto tempo alienada.
Então, ela sentiu seu sangue de águia correr nas veias, perfilou,
devagar, suas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu
no horizonte azul.
“Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.”
Helen Keller
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 13
A BALANÇA
Uma pobre senhora, com visível ar de derrota estampado no
rosto, entrou num armazém, se aproximou do proprietário, conhecido
pelo seu jeito grosseiro e lhe pediu fiado alguns mantimentos.
Ela explicou que o seu marido estava muito doente e não podia
trabalhar e que ela tinha sete filhos para alimentar.
O dono do armazém zombou dela e pediu que se retirasse do
seu estabelecimento.
Pensando na necessidade da sua família ela implorou:
– Por favor, eu lhe darei o dinheiro assim que eu tiver.
Ao que ele lhe respondeu que ela não tinha crédito e nem conta
na sua loja.
Em pé, no balcão ao lado, um freguês que assistia a conversa
entre os dois, se aproximou do dono do armazém e lhe disse que ele
deveria dar o que aquela mulher necessitava para a sua família por
sua conta.
Então o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:
– Você tem uma lista de mantimentos?
– Sim, respondeu ela.
– Muito bem, coloque a sua lista na balança e o quanto ela pesar,
eu lhe darei em mantimentos!
A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabeça curvada,
retirou da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o
depositou suavemente na balança.
Os três ficaram admirados, quando o prato da balança com o
papel desceu e permaneceu embaixo.
Completamente pasmo com o marcador da balança, o comerciante
virou-se lentamente para o seu freguês e comentou contrariado:
– Eu não posso acreditar!
O freguês sorriu e o homem começou a colocar os mantimentos
no outro prato da balança.
Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou colocando
mais e mais mantimentos até não caber mais nada.
O comerciante ficou parado ali por uns instantes olhando para
a balança, tentando entender o que havia acontecido.
Finalmente, ele pegou o pedaço de papel da balança e ficou
As 14 reflexões de um sonho que não tem fim
espantado, pois, não era uma lista de compras e sim uma oração que
dizia:
“Meu Senhor, o senhor conhece as minhas necessidades e eu
estou deixando isto em suas mãos”.
O homem deu as mercadorias para a pobre mulher no mais
completo silêncio, que agradeceu e deixou o armazém.
O freguês pagou a conta e disse:
– Valeu cada centavo.
Só mais tarde, o comerciante pôde reparar que a balança havia
quebrado. Entretanto, só Deus sabe o quanto pesa uma oração.
“O homem mais rico é o que tem menos necessidades.”
Chico Xavier
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 15
A BOLSA COM BATATAS
O professor pediu para que os alunos levassem batatas e uma
bolsa de plástico para a aula.
Ele pediu também para que separassem uma batata para cada
pessoa de quem sentiam mágoas, escrevessem os seus nomes nas
batatas e as colocassem dentro da bolsa. Algumas das bolsas ficaram
muito pesadas.
A tarefa consistia em, durante uma semana, levar a todos os
lados a bolsa com batatas. Naturalmente a condição das batatas foi se
deteriorando com o tempo. O incômodo de carregar a bolsa, a cada
momento, mostrava-lhes o tamanho do peso espiritual diário que a
mágoa ocasiona, bem como o fato de que, ao colocar a atenção na
bolsa, para não esquecê-la em nenhum lugar, os alunos deixavam de
prestar atenção em outras coisas que eram importantes para eles.
Esta é uma grande metáfora do preço que se paga, todos os
dias, para manter a dor, a insatisfação, a intolerância e a negatividade.
Quando damos importância aos problemas não resolvidos ou
às promessas não cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de mágoa,
aumentando o stress e roubando nossa alegria.
Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora, é a única forma de
trazer de volta a paz e a serenidade.
Jogue fora suas “batatas”!
“As pessoas te pesam?
Não as carregues nos ombros.
Leve-as no coração.”
Dom Hélder Câmara
As 16 reflexões de um sonho que não tem fim
A CARROÇA VAZIA
Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um
passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira
e depois de um pequeno silêncio me perguntou:
– Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma
coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
– Estou ouvindo um barulho de carroça.
– Isso mesmo - disse meu pai - é uma carroça vazia.
Perguntei ao meu pai:
– Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a
vimos?
– Ora - respondeu meu pai - é muito fácil saber que uma carroça
está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior
é o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando
demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com
grossura inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo
mundo e querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade
absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
“Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz”.
“Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza
antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo.”
Albert Schweitzer
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 17
A FORÇA DE UM GESTO DE CARINHO
Certa vez, doutor Bezerra de Menezes, um renomado médico
brasileiro da segunda metade do século XIX, saía de uma reunião de
uma das entidades de que fazia parte na cidade do Rio de Janeiro,
então capital do Império do Brasil, quando localizou um “irmão em
sofrimento”, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa
suja e amarrotada. Os dois se olharam e doutor Bezerra compreendeu
logo que ali estava um caso todo particular para resolver. Bendito os
que têm olhos no coração! E ele sempre os teve.
Ele levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção,
o desabafo, o pedido:
– Doutor Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois
filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como vê, estou sem alimento
e febril!
Doutor Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro.
Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde.
Devido a situação e não tendo condições de auxiliá-lo, tornou-se
mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto
para o alto e, numa prece muda, pediu inspiração para solucionar
mais este problema. Depois, virando-se disse:
– Meu filho, você tem fé em Deus?
– Tenho e muita doutor Bezerra!
– Pois, então, receba este abraço.
E o abraçou envolvente e demoradamente. E, despedindo-se,
disse:
– Vá com Deus meu filho. E, em seu lar, faça o mesmo com
todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie em
Deus, que seu caso há de ser resolvido.
Doutor Bezerra partira. A caminho do lar, meditava: teria
cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em prova,
faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um
abraço. Não possuía nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não
estava mais em seu dedo. Tudo havia dado. Não tendo dinheiro, dera
algo de si mesmo ao irmão sofredor, boas vibrações, bom ânimo,
moeda da alma, mas, não tinha certeza de que isso lhe bastara. E,
neste estado de espírito, preocupado pela sorte de seu semelhante,
As 18 reflexões de um sonho que não tem fim
chegou ao lar.
Uma semana passara-se. Doutor Bezerra praticamente não se
recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas a serem resolvidos.
Após uma reunião, no mesmo prédio em que encontrara o
“irmão em sofrimento” na semana anterior, descia as escadas quando
alguém, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento,
toca-lhe o braço e lhe diz:
– Venho agradecer-lhe, doutor Bezerra, o abraço milagroso
que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui
saí logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei
minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos
todos a Deus. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece,
continha alimento, pois, dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos
sem febre e como que alimentados. E veio-me a inspiração,
guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu
meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego. Venho
lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si
mesmo, maior e melhor do que dinheiro!
O ambiente era tocante. Lágrimas caíam tanto dos olhos de
doutor Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido. E uma
prece muda, de dois corações unidos numa mesma força, subiu aos
céus.
“Soletremos antes de tudo o alfabeto da bondade.
Sem as primeiras letras do amor e da caridade,
jamais entenderemos o sagrado poema da vida.”
Bezerra de Menezes
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 19
A GRANDEZA DE UM PEQUENO GESTO
Logo após o término da Segunda Grande Guerra, a Europa
começou a ajuntar os cacos do que restara.
Grande parte da Inglaterra estava destruída. As ruínas estavam
por todo lugar. E, possivelmente, o lado mais triste da guerra tenha
sido assistir as criancinhas órfãs morrendo de fome, nas ruas das cidades
devastadas.
Certa manhã, de muito frio na capital londrina, um soldado
americano estava retornando ao acampamento. Numa esquina, ele
viu, do seu jipe, um menino com o nariz pressionado contra o vidro
de uma confeitaria.
Parou o veículo, desceu e se aproximou do garoto. Lá dentro,
o confeiteiro sovava a massa para uma fornada de rosquinhas.
Os olhos arregalados do menino, falava da fome que lhe devorava
as entranhas. Ele observava todos os movimentos do confeiteiro,
sem perder nenhum.
Através do vidro embaçado pela fumaça, o soldado viu as rosquinhas
quentes, de dar água na boca, sendo retiradas do forno. Logo
mais, o confeiteiro as colocou no balcão de vidro com todo o cuidado.
O soldado ouviu o gemido do menino e percebeu como ele
salivava. Em pé, ao lado dele, comoveu-se diante daquele órfão desconhecido.
– Filho, você gostaria de comer algumas rosquinhas?
O menino se assustou. Nem percebera a presença do homem a
observá-lo, tão absorto estava na sua contemplação.
– Sim, respondeu. Eu gostaria.
O soldado entrou na confeitaria e comprou uma dúzia de rosquinhas.
Colocou-as dentro de um saco de papel e se dirigiu ao local
onde o menino se encontrava, na gélida e nevoenta manhã de Londres.
Sorriu e lhe entregou as rosquinhas, dizendo de forma descontraída:
– Aqui estão as rosquinhas.
Virou-se para se afastar. Entretanto, sentiu um puxão em sua
farda. Olhou para trás e ouviu o menino perguntar, baixinho:
– Moço, você é Deus?
As 20 reflexões de um sonho que não tem fim
Em diversas situações, pequenos gestos significam muito para
algumas vidas.
“Jamais subestime o poder de suas ações.
Com um pequeno gesto você pode mudar a vida
de uma pessoa. Para melhor ou para pior.”
Alex Cardoso de Melo
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 21
A IMPORTÂNCIA DO HORIZONTE
Certa vez, uma pessoa chegou no céu e queria falar com Deus,
porque segundo o seu ponto de vista, havia uma coisa na criação que
não tinha nenhum sentido. Deus o atendeu de imediato, curioso por
saber qual era a falha na criação.
– Senhor Deus, sua criação é muito bonita, muito funcional,
cada coisa tem sua razão de ser, mas, no meu ponto de vista, tem uma
coisa que não serve para nada, disse aquela pessoa para Deus.
– E que coisa é essa que não serve para nada? Perguntou Deus.
– É o horizonte. Para que serve o horizonte? Se eu caminho
um passo em direção ao horizonte, ele se afasta um passo de mim. Se
caminho dez passos ele se afasta outros dez passos. Se caminho quilômetros
em direção ao horizonte, ele se afasta os mesmos quilômetros
de mim. Isso não tem sentido. O horizonte não serve para nada.
Deus olhou para aquela pessoa, sorriu e disse:
– É justamente para isso que serve o horizonte meu filho, para
fazê-lo caminhar!
“Toda grande caminhada começa com um simples passo.”
Buda
As 22 reflexões de um sonho que não tem fim
A INVEJA E A COMPETÊNCIA
Marcos era um funcionário extremamente insatisfeito com a
empresa em que trabalhava e seu patrão. Trabalhava há 20 anos na
companhia, era sério, dedicado e cumpridor de suas obrigações.
Um belo dia, ele foi ao dono da empresa para fazer uma reclamação.
Disse que trabalhava ali há 20 anos com toda dedicação, mas,
se sentia injustiçado. O Alexandre, seu colega de departamento, que
havia começado há apenas três anos, estava ganhando muito mais do
que ele.
O patrão fingiu não ouvir e lhe pediu que fosse até a barraca
de frutas da esquina. Ele estava pensando em oferecer frutas como
sobremesa ao pessoal, após o almoço daquele dia, e queria que ele
verificasse se na barraca havia abacaxi.
Marcos não entendeu direito, mas obedeceu. Voltando, muito
rápido, informou que o moço da barraca tinha abacaxi.
Quando o dono da empresa lhe perguntou o preço ele disse
que não havia perguntado. Como também não sabia responder se o
rapaz tinha quantidade suficiente para atender todos os funcionários
da empresa. Muito menos, se ele tinha outra fruta para substituir o
abacaxi, neste caso.
O patrão pediu a Marcos que se sentasse em sua sala e chamou
o Alexandre. Deu a ele a mesma missão que dera para Marcos:
– Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal
hoje. Aqui na esquina tem uma barraca. Vá até lá e verifique se eles
têm abacaxi.
Poucos minutos depois, Alexandre voltou com a seguinte resposta:
– Eles têm abacaxi e em quantidade suficiente para todo o nosso
pessoal. Se o senhor preferir, têm também laranja, banana, melão
e mamão. O abacaxi está R$ 1,50 cada, a banana e o mamão a R$
1,00 o quilo, o melão R$
já descascada.
Como falei que a compra seria em grande quantidade, ele dará
um desconto de 15%. Deixei reservado. Conforme o senhor decidir,
volto lá e confirmo.
Agradecendo pelas informações, o patrão dispensou Alexan-
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 23
dre. Voltou-se para Marcos e perguntou:
– O que você estava querendo falar comigo antes?
Marcos se levantou e se encaminhando para a porta, falou:
– Nada sério, patrão. Esqueça. Com sua licença.
“A causa real da maioria dos nossos grandes problemas
está entre a ignorância e a negligência.”
Goethe
As 24 reflexões de um sonho que não tem fim
A JANELA
Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo
quarto de hospital.
Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas
as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões.
A sua cama estava junto da única janela do quarto.
O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.
Os homens conversavam horas a fio.
Falavam das suas mulheres e famílias, das suas casas, dos seus
empregos, onde tinham passado as férias.
E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se
sentava, ele passava o tempo a descrever ao seu companheiro de
quarto, todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da janela.
O homem da cama ao lado começou a viver à espera desses
períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado
por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela.
A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes
chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os
seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados
por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e
enormes acariciavam a paisagem, e a tênue vista da silhueta da cidade,
podia ser vista no horizonte.
Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo
com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto
fechava os seus olhos e imaginava a pitoresca cena.
Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia
a passar.
Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, ele
conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a
refratava através de palavras bastante descritivas.
Dias e semanas passaram.
Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para
os seus banhos e encontrou o corpo sem vida do homem perto da
janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.
Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 25
para que levassem o corpo.
Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se
podia ser colocado na cama perto da janela.
A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.
Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado,
a enfermeira deixou o quarto.
Lentamente e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no
cotovelo, para contemplar o mundo lá fora.
Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora
da janela, que dava, afinal, para uma parede de tijolo!
O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o
seu falecido companheiro de quarto, lhe tivesse descrito coisas tão
maravilhosas do lado de fora da janela.
A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer
conseguia ver a parede. “Talvez ele quisesse apenas dar-lhe coragem”.
“Coração feliz é resultado de um coração repleto de amor.”
Madre Teresa de Calcutá
As 26 reflexões de um sonho que não tem fim
A LENDA DO MONGE E DO ESCORPIÃO
Um monge e seus discípulos iam por uma estrada; quando passavam
por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas.
Imediatamente, o monge correu pela margem do rio, entrou na
água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o escorpião
o picou.
Devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi
então que o monge pegou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez
a correr pela margem, entrou no rio, mais uma vez, colheu o escorpião
e o salvou.
Satisfeito, o monge voltou à ponte e juntou-se a seus discípulos.
Eles, que haviam assistido à cena, o receberam perplexos e penalizados.
Um deles, então falou:
– Mestre, deve estar doendo muito! Mas, porque foi salvar
esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos.
Veja como ele retribuiu à sua ajuda. Picou a mão que o salvava. Não
merecia a sua compaixão!
O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu
sereno:
– Ele agiu conforme a sua natureza e eu de acordo com a minha.
“Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.”
Mahatma Gandhi
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 27
A LIÇÃO DO JARDINEIRO
Certo dia, um executivo contratou, pelo telefone, um jardineiro
autônomo para fazer a manutenção do seu jardim.
Chegando em casa, o executivo viu que estava contratando um
garoto de apenas 16 anos de idade. Contudo, como já estava contratado,
ele pediu para que o garoto executasse o serviço.
Quando terminou, o garoto solicitou ao dono da casa permissão
para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir a
conversa.
O garoto ligou para uma mulher e perguntou:
– A senhora está precisando de um jardineiro?
– Não. Eu já tenho um, foi sua resposta.
– Mas, além de aparar a grama, frisou o garoto, eu também tiro
o lixo.
– Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O
meu jardineiro também faz isso.
O garoto insistiu:
– Eu limpo e lubrifico todas ferramentas no final do serviço.
– O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora.
– Eu programo seu atendimento, o mais rápido possível.
– Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente.
Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa.
Numa última tentativa, o menino arriscou:
– O meu preço é um dos melhores.
– Não, disse firme a voz ao telefone. Muito obrigada! O preço
do meu jardineiro também é muito bom.
Desligado o telefone, o executivo disse ao jardineiro:
– Meu rapaz, você perdeu um cliente.
– Claro que não, respondeu rápido. Eu sou o jardineiro dela.
Fiz isto apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo.
“A câmera fotográfica nos retrata por fora,
mas, o trabalho nos retrata por dentro.”
André Luiz
As 28 reflexões de um sonho que não tem fim
A MENINA E O CÃO
Uma menina entra na lojinha de animais e pergunta o preço
dos filhotes à venda.
– Entre cem e trezentos reais, respondeu o dono.
A menina puxou uns trocados do bolso e disse:
– Mas, eu só tenho dez reais. Poderia ver os filhotes?
O dono da loja sorriu e chamou Duquesa, a mãe dos cachorrinhos,
que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo.
Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando
de forma visível.
A menina apontou aquele cachorrinho e perguntou:
– O que é que há com ele?
O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e
descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril, mancaria
e andaria devagar para sempre.
A menina se animou e disse com enorme alegria no olhar:
– Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!
O dono da loja respondeu:
– Não, você não vai querer comprar esse.
Se quiser realmente ficar com ele, eu lhe dou de presente.
A menina emudeceu e, com os olhos marejados de lágrimas,
olhou firme para o dono da loja e falou:
– Eu não quero que você o dê para mim. Aquele cachorrinho
vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.
Na verdade, eu lhe dou dez reais agora e mais dez reais por
mês, até completar o preço total.
Surpreso, o dono da loja contestou:
– Você não pode querer realmente comprar este cachorrinho.
Ele nunca vai poder correr, pular e brincar com você e com os
outros cachorrinhos.
A menina ficou muito séria, acocorou-se e levantou lentamente
a perna esquerda da calça, deixando à mostra a prótese que usava
para andar. Olhou bem para o dono da loja e respondeu:
– Veja, não tenho uma perna, eu não corro muito bem e o cachorrinho
vai precisar de alguém que entenda isso.
O homem estava agora envergonhado e seus olhos se enche-
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 29
ram de lágrimas.
Ele sorriu e disse:
– Filha, só espero e oro para que cada um destes cachorrinhos
tenha uma dona como você.
“Minhas expectativas foram reduzidas a zero quando eu
tinha 21 anos. Tudo, desde então, tem sido um bônus.”
Stephen Hawking
As 30 reflexões de um sonho que não tem fim
A PANELA DE SOPA
Uma antiga lenda judaica diz que certo dia, Deus convidou um
rabino para conhecer o céu e o inferno.
Ao abrirem a porta do inferno, viram uma sala em cujo centro
havia um caldeirão, no qual se cozinhava uma suculenta sopa.
Em volta dele, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.
Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido que
lhe permitia alcançar o caldeirão, mas, não suas próprias bocas. O
sofrimento era imenso.
Em seguida, Deus levou o rabino para conhecer o céu. Entraram
em uma sala idêntica à primeira, onde havia o mesmo caldeirão
com as pessoas à sua volta e colheres de cabo comprido. A diferença
é que todos estavam saciados.
Eu não compreendo disse o rabino, por que aqui as pessoas
estão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo
igual?
Deus sorriu e respondeu:
– É por que aqui elas aprenderam a dar comida umas às outras.
“Democracia serve para todos ou não serve para nada.”
Betinho
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 31
A PEDRA NO CAMINHO
Conta-se a lenda de um rei que viveu num país além-mar há
muito anos. Ele era muito sábio e não poupava esforços para ensinar
bons hábitos ao seu povo. Freqüentemente fazia coisas que pareciam
estranhas e inúteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a ser
trabalhador e cauteloso.
– Nada de bom pode vir à uma nação – dizia ele – cujo povo
reclama e espera que outros resolvam seus problemas. Deus dá as
coisas boas da vida à quem lida com os problemas por conta própria.
Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma enorme pedra
na estrada que passava pelo palácio. Depois foi se esconder atrás
de uma cerca e esperou para ver o que acontecia.
Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada de
sementes que ele levava para moagem na usina.
– Quem já viu tamanho descuido? – disse ele contrariadamente,
enquanto desviava sua parelha e contornava a pedra.
– Por que esses preguiçosos não mandam retirar essa pedra da
estrada? E continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas, sem
ao menos tocar, ele próprio, na pedra.
Logo depois, um jovem soldado veio cantando pela estrada. A
longa pluma de seu quepe ondulava na brisa e uma espada reluzente
pendia à sua cintura. Ele pensava na maravilhosa coragem que mostraria
na guerra.
O soldado não viu a pedra, tropeçou nela e se estatelou no
chão poeirento. Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada
e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente haviam largado
uma pedra imensa na estrada. Então, ele também se afastou, sem
pensar uma única vez que ele próprio poderia retirar a pedra.
Assim correu o dia. Todos que por ali passavam reclamavam e
resmungavam por causa da pedra colocada na estrada, mas, ninguém
a tocava.
Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá passou.
Era muito trabalhadora e estava cansada, pois, desde cedo andava
ocupada no moinho.
Mas, disse a si mesma:
– Já que esta quase escurecendo, alguém pode tropeçar nesta
As 32 reflexões de um sonho que não tem fim
pedra à noite e se ferir gravemente. Vou tirá-la do caminho.
E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas, a moça
empurrou e empurrou, e puxou, e inclinou, até que conseguiu tirá-la
do lugar. Para a sua surpresa encontrou uma caixa debaixo da pedra.
Ergueu a caixa. Era pesada, pois, estava cheia de alguma coisa.
Havia na tampa os seguintes dizeres:
– Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.
Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.
A filha do moleiro foi para casa com o coração feliz. Quando o
fazendeiro, o soldado e todos os outros que ouviram o que havia ocorrido,
juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedra estava.
Revolveram o pó da estrada com os pés, na esperança de encontrar
um pedaço de ouro.
– Meus amigos - disse o rei - com freqüência encontramos
obstáculos e fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bom
som, enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou podemos
erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente
o preço da preguiça.
Então, o sábio rei montou em seu cavalo e com um delicado
boa noite retirou-se.
“No meio de toda dificuldade existe sempre uma oportunidade.”
Albert Einstein
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 33
A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO
Conta-se que, um dia, um homem parou na frente de um pequeno
bar, tirou do bolso um metro, mediu a porta e falou em voz
alta:
– Dois metros de altura, por oitenta centímetros de largura.
Admirado mediu-a de novo.
Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira
vez. E assim, tornou a medi-la diversas vezes.
Curiosas, as pessoas que por ali passavam, começaram a parar.
Primeiro, um pequeno grupo, depois, um grupo maior, por
fim, uma multidão.
Voltando-se para os curiosos, o homem exclamou, visivelmente
impressionado:
– Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura
e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o
meu dinheiro, meu carro, o pão dos meus filhos, passaram os meus
móveis e a minha casa. E não foram só os bens materiais. Por ela
também passou a minha saúde, passaram as esperanças de minha
esposa, passou toda a felicidade e prosperidade do meu lar. Além
disso, passaram também a minha dignidade, minha honra, meus sonhos
e meus planos. Sim, senhores, todos os meus planos de construir
uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia, gole por
gole. Hoje, eu não tenho absolutamente mais nada. Nem família,
nem saúde, nem esperança. Mas, quando passo pela frente desta porta,
ainda ouço o chamado daquela que é a responsável pela minha
desgraça. Ela ainda me chama insistentemente: Só mais um trago! Só
hoje! Uma dose, apenas! Sim, essa era a senha. Essa era a isca. E
mais uma vez eu caía na armadilha, dizendo comigo mesmo:
“quando eu quiser, eu paro”. Isso é o que muita gente pensa, mas,
somente pensa. Hoje, eu sou um trapo humano. A bebida, bem, a
bebida continua fazendo as suas vítimas. Por isso é que eu lhes digo,
senhores: esta porta é a porta mais larga do mundo! Ela tem enganado
muita gente. Por esta porta, que pode ser chamada de porta do
vício, de aparência tão estreita, simples e inofensiva pode passar tudo
o que se tem de mais valioso na vida.
Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos
As 34 reflexões de um sonho que não tem fim
lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos
para profundas reflexões.
“Todo vício tende a justificar-se.”
Friedrich Nietzsche
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 35
A PORTA NEGRA
Há algumas gerações atrás, durante uma das mais turbulentas
guerras no Oriente Médio, um general persa capturou um espião e o
condenou à morte.
O general, um homem de grande inteligência e compaixão havia
adotado um estranho costume em tais casos. Ele permitia ao condenado
que escolhesse. O prisioneiro podia enfrentar um pelotão de
fuzilamento ou podia atravessar a “porta negra”.
Um pouco antes da execução, o general ordenava que trouxessem
o espião à sua presença para uma breve e final entrevista, sendo
seu principal objetivo saber qual seria sua resposta: o pelotão de fuzilamento
ou a “porta negra”.
Esta não era uma decisão fácil e o prisioneiro vacilava e preferia,
invariavelmente, o pelotão ao desconhecido e aos espantosos
horrores que poderiam estar por detrás da tenebrosa e misteriosa
“porta negra”. Momentos após, se escutava o rajar das balas que davam
cumprimento à sentença. O general, com os olhos fixos em suas
bem polidas botas, voltava-se para o seu ajudante de ordens e dizia:
– Eis ali o que é o homem, prefere o mal conhecido ao desconhecido.
É uma característica dos humanos temer o incerto. Você vê,
eu disse a ele para escolher.
– Afinal, o que existe atrás da “porta negra? Perguntou seu
ajudante de ordens.
– A liberdade – respondeu o general – e poucos têm sido os
homens que tiveram o valor de decidir-se por ela.
“Aquilo que pedimos aos céus, muitas vezes
se encontra em nossas mãos.”
William Shakespeare
As 36 reflexões de um sonho que não tem fim
A PRINCESA NOLA
Havia uma linda princesa chamada Nola. Todos os dias, quando
o sol estava para se pôr, ela cantava em gratidão por mais um dia.
E todo o reino silenciava para ouvir sua linda canção. Todos sentiam
uma grande paz.
As crianças amavam a voz de Nola. A sua voz era um símbolo
de amor dentro do reino.
Um dia, a voz de Nola silenciou. Nola não conseguia falar e
nem cantar e ninguém sabia o porquê.
O rei muito preocupado, pediu ajuda a todos os sábios do reino
na tentativa de recuperar a voz de Nola.
Alguns traziam receitas caseiras, ervas consideradas milagrosas,
outros oravam. Mas nada surtia efeito e, assim, o reino caiu em
profunda tristeza. As tardes já não eram tão especiais sem o canto de
Nola.
E o tempo foi passando...
Nola não era mais vista ao entardecer, e o rei estava em prantos
pela dor de sua filha.
Numa noite fria, o rei ouviu batidas na porta do castelo e ele
próprio foi abri-la. Quando viu um mendigo a pedir por comida:
– Senhor dá-me de comer, tenho muita fome.
O rei, vendo o pobre homem, ordenou que dessem de comer
ao mendigo.
E então o mendigo disse ao rei:
– És um homem tão bondoso! Deste-me de comer quando eu
mais precisava. Como posso retribuir tamanha generosidade?
E o rei, tristonho, olhou para a noite fria e disse:
– Não há nada que possas fazer. O meu maior desejo, ninguém
pode realizar. Vá com Deus.
E assim, o mendigo saiu do castelo muito agradecido.
No dia seguinte o Rei ouviu sua filha chamá-lo. Subiu às pressas
a escadaria do castelo e não acreditou ao ver que Nola havia recuperado
sua voz.
O reino inteiro festejou pelo milagre ocorrido com Nola. Poderiam
ouvir sua voz ao entardecer e os dias seriam felizes novamente.
E o rei, em sua tamanha alegria, começou a questionar quem
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 37
teria feito tal milagre. Foi quando lembrou-se do mendigo que havia
estado em seu castelo na noite anterior. Ele tinha um olhar diferente
quando falou em retribuir ao rei pela comida dada.
Sim, procurem aquele homem, por que, se foi ele quem fez tal
milagre, devo agradecer-lhe.
E então, saíram em busca do mendigo e o encontraram na floresta:
– És o mendigo que o rei procura?
E o mendigo falou:
– Como está o rei?
Então, és tu quem realizou o milagre? Como conseguiste?
– Nada fiz senhor. Apenas pedi a Deus com amor, que desse
ao rei o que lhe faltava. E quando pedimos com amor, nem mesmo
Deus pode nos negar, pois, sendo Ele o amor, como poderia contrariar
o Seu próprio pedido?
“Escreva suas mágoas em areia, sua gratidão em mármore.”
Benjamin Franklin
As 38 reflexões de um sonho que não tem fim
A VERDADEIRA RIQUEZA
Um dia, um rico pai de família levou seu filho para viajar para
o interior com o firme propósito de mostrar o quanto as pessoas podem
ser pobres.
Eles passaram um dia e uma noite no sitio de uma família muito
pobre. Quando retornaram da viagem o pai perguntou ao filho:
– Como foi a viagem?
– Muito boa papai!
– Você viu como as pessoas pobres podem ser? - o pai perguntou.
– Sim.
– E o que você aprendeu? - o pai perguntou.
O filho respondeu:
– Eu vi que nós temos um cachorro em casa, e eles têm quatro.
Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim, eles têm um
riacho que não tem fim. Nós temos uma varanda coberta e iluminada
com luz, eles têm as estrelas e a lua. Nosso quintal vai até o portão
de entrada, eles têm uma floresta inteira.
Quando o pequeno garoto estava acabando de responder, seu
pai já estava estupefato, e seu filho acrescentou:
– Obrigado pai por me mostrar quanto “pobre” nós somos!
“A verdadeira riqueza não consiste em termos grandes posses,
mas, em termos poucas necessidades.”
Alex Cardoso de Melo
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 39
A VIDA É UM ESPELHO
Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento.
Chovia forte e já era noite. Mas, percebeu que ela precisava
de ajuda. Assim parou seu carro e se aproximou.
O carro dela cheirava a tinta, de tão novinho. Mesmo com o
sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém
tinha parado para ajudar. Ele iria aprontar alguma?
Ele não parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pode ver
que ela estava com muito medo e disse:
– Eu estou aqui para ajudar madame, não se preocupe. Por que
não espera no carro onde está quentinho? A propósito, meu nome é
Rodrigo.
Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas, para uma
senhora de idade avançada era ruim o bastante.
Rodrigo abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Ele
já estava trocando o pneu. Mas, ficou um tanto sujo e feriu uma das
mãos. Enquanto fixava a roda ela abriu a janela e começou a conversar
com ele. Contou que era de São Paulo e que só estava de passagem
por ali e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda.
Rodrigo apenas sorriu enquanto se levantava.
Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito
pouco para ela. Já tinha imaginado todos as terríveis coisas que poderiam
ter acontecido, se Rodrigo não tivesse parado e ajudado.
Rodrigo não pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho
para ele. Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus
já lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe
ocorreu agir de outro modo. E respondeu:
– Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que encontrar
alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda de que
ela precisar. E acrescentou: e lembre-se de mim.
Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi.
Tinha sido um dia frio e deprimente, mas, ele se sentia bem,
indo para casa, desaparecendo no crepúsculo.
Alguns quilômetros abaixo, a senhora parou seu carro num
pequeno restaurante e entrou para comer alguma coisa.
Era um restaurante muito simples. A garçonete veio até ela e
As 40 reflexões de um sonho que não tem fim
trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o cabelo
molhado e lhe dirigiu um doce sorriso, um sorriso que mesmo
os pés doendo por um dia inteiro de trabalho, não pode apagar.
A senhora notou que a garçonete estava com oito meses de
gravidez, mas, ela não deixou a tensão e as dores mudarem a sua atitude.
Ela ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco,
podia tratar tão bem a um estranho. Então, lembrou-se de Rodrigo.
Depois que terminou a sua refeição, enquanto a garçonete buscava
troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou.
Já tinha partido quando a garçonete voltou. Ela queria saber
onde a senhora poderia ter ido, quando notou algo escrito no guardanapo,
sob o qual tinha mais quatro notas de cem reais.
Existiam lágrimas em seus olhos quando leu o que a senhora
escreveu. Dizia:
– Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me
ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente
quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe este círculo de
amor terminar com você, ajude alguém.
Bem, haviam mesas para limpar, açucareiros para encher, e
pessoas para servir, e a garçonete voltou ao trabalho.
Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama,
seu marido já estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiro
e no que a senhora deixou escrito.
Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam
disto? Com o bebê que estava para nascer no próximo mês,
como estava difícil!
Ficou pensando na bênção que havia recebido, deu um grande
sorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o preocupado marido que
dormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou:
– Tudo ficará bem; eu te amo Rodrigo!
A vida é assim, um espelho. Tudo o que você transmite volta
para você, e geralmente em dobro.
“Se os seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois
eles estão no lugar certo. Agora, construa os alicerces.”
William Shakespeare
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 41
AMOR
Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes de uma favela -
um deles de cinco anos e o outro de dez - iam pedindo um pouco de
comida pelas casas de uma das ruas de São Paulo.
– Estavam famintos!
– Vai trabalhar e não amole, ouvia-se detrás da porta.
– Aqui não tem nada neguinho, dizia outro.
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças.
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes:
– Vou ver se tenho alguma coisa para vocês garotinhos! E voltou
com uma latinha de leite.
Que festa! Ambos se sentaram na calçada.
O menorzinho disse para o de dez anos:
– Você é mais velho, tome primeiro. E olhava para ele com
seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
O irmão mais velho leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber,
aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só
gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão:
– Agora é sua vez. Só um pouco. E o irmãozinho, dando um
grande gole exclama: como está gostoso!
– Agora eu, diz o mais velho. E levando a latinha, já meio vazia,
à boca, não bebe nada.
Agora você, agora eu, agora você, agora eu... E, depois de três,
quatro ou cinco goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho,
com a camisa de fora, esgota o leite todo, ele sozinho.
E então, aconteceu algo extraordinário. O mais velho começou
a cantar, a dançar, a jogar futebol com a lata de leite vazia.
Estava radiante, o estômago vazio, mas, o coração trasbordante
de alegria. Pulava, com a naturalidade de quem não fez nada de
extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado
a fazer coisas extraordinárias, sem dar-lhes maior importância.
“A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.”
Mahatma Gandhi
As 42 reflexões de um sonho que não tem fim
AQUILO QUE O CORAÇÃO CARREGA
Conta uma popular lenda do Oriente Próximo, que um jovem
chegou a beira de um oásis junto a um povoado e aproximando-se de
um velho perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive neste lugar?
Por sua vez perguntou o ancião:
– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem?
– Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz -
estou satisfeito de haver saído de lá.
A isso o velho replicou:
– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.
No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber
água e vendo o ancião perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
– Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
– Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras.
Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
– O mesmo encontrará por aqui, respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou:
– Como é possível responder tão diferente à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
– Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que
vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou,
não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou
amigos ali, também os encontrará aqui porque, na verdade, a
nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos
manter controle absoluto.
“Sempre temos a possibilidade de mudarmos as nossas vidas
e as atitudes de todos àqueles que nos cercam,
simplesmente mudando a nós mesmos.”
Alex Cardoso de Melo
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 43
AS CICATRIZES DO DESCONTROLE
Naquele dia de sol, Antônio chegou feliz e estacionou o reluzente
caminhão em frente à porta de sua casa. Após 20 anos de muita
economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele
conseguiu: comprou um caminhão.
Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua
aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.
Ao chegar próximo do caminhão, uma cena o deixou descontrolado.
Seu filho de apenas seis anos estava martelando alegremente
a lataria do caminhão.
Irritado e aos berros, ele investiu contra o pequeno filho. Tomou
o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou
as mãozinhas do garoto.
Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a
chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.
Na seqüência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos
levaram o filho ao hospital, para fazer curativos.
O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser
muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal
estrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.
Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e
lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e
os dedinhos tiveram que ser amputados.
De resto, falou o médico, a criança era forte e tinha resistido
bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguardá-lo no quarto, para
onde logo mais seria conduzido.
Com um aperto no coração, os pais esperaram que a criança
despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o menino
abriu um sorriso e falou:
– Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão,
como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo.
O pai, com lágrimas a escorrer pela face, se aproximou do pequeno
inocente e disse que não tinha a menor importância o que ele
havia feito. Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido
estragada.
O menino insistiu:
As 44 reflexões de um sonho que não tem fim
– Quer dizer que não está mais bravo comigo?
– Não, mesmo, falou o pai.
– Então, perguntou o garoto, se estou perdoado, quando é que
meus dedinhos vão nascer novamente?
“Quando um país deixa maltratar e matar crianças,
é porque começou seu suicídio como sociedade.”
Betinho
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 45
AS LIÇÕES DE UM LÁPIS
O pequeno menino olhava atentamente a sua avó escrevendo
uma carta.
A certa altura perguntou:
– Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco?
É uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
– Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, muito
mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Eu
gostaria que você fosse como ele, quando crescesse e se torna-se um
belo rapaz.
O menino olhou para o lápis, extremamente intrigado e não
viu nada de especial.
– Mas vovó, ele é igual a todos os lápis que eu já vi em minha
vida!
– Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco
qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma
pessoa em paz com o mundo.
– Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas,
não deve esquecer nunca que existe uma mão que guia seus passos.
Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em
direção à Sua vontade.
– Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que
estou escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra
um pouco, mas no final, ele está mais afiado e com uma nova ponta.
Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma
pessoa melhor.
– Terceira qualidade: o lápis permite que usemos uma borracha
para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma
coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, muito pelo contrário,
é algo importante para sempre nos manter no caminho da justiça.
– Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a
madeira ou sua forma exterior, mas, a grafite que está dentro. É ela
que o faz escrever e desenhar. Portanto, sempre cuide daquilo que
acontece dentro de você.
As 46 reflexões de um sonho que não tem fim
– Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa
uma marca por onde passa. Da mesma maneira, saiba que tudo que
você fizer em sua vida irá deixar traços, e procure ser consciente de
cada ação.
“Ajudemos a criança!
O berço é o ponto vivo em que a educação começa a brilhar.”
Bezerra de Menezes
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 47
AS PEQUENAS DÁDIVAS
A família, constituída do pai e um filho menor era pobre, vivendo
com os poucos recursos financeiros que o pai ganhava no trabalho
de vigilância noturna.
Certo dia, o pai adoeceu, ficando acamado por tempo mais
longo do que podiam suportar suas economias.
Com falta do que comer em casa, o filho pequeno saiu às ruas
pedindo comida para ele e para o pai doente.
Escondendo as lágrimas pela tristeza e pela preocupação, passou
o primeiro dia sem nada conseguir.
No segundo dia, quase ao anoitecer, enquanto revirava um
saco com lixo residencial em frente a uma loja que estava encerrando
o expediente, viu se aproximar um senhor de meia idade, sorridente,
com ar bondoso, que trazia nas mãos uma pequena marmita, bem
quentinha, que lhe ofereceu.
Meio receoso, o menino segurou a marmita ouvindo a recomendação
do seu benfeitor:
– Coma enquanto está quente!
– Muito obrigado senhor, mas, gostaria de ir comê-la em casa,
para repartir com meu pai. Disse o menino.
Sorridente e paternal, o lojista perguntou-lhe:
– O que o seu pai faz em casa, enquanto você sai por aí procurando
o que comer? Ele não trabalha?
– Trabalha sim, e muito. Mas, há dias está acamado. Como
acabou o dinheiro para comprar comida, fui obrigado a sair pedindo
um pedaço de pão. Só que não tenho recebido quase nada. Respondeu
o pequeno andarilho.
– Você mora muito longe daqui? Continuou o bom senhor.
– Não, não. Em pouco tempo eu chego lá. E sei que a comida
ainda estará bem quentinha. Apressou-se em dizer o menino, com
olhos um pouco mais alegres.
– Quer saber, meu pequeno, eu vou até lá com você, se você
deixar. Assim, aprendo onde você mora e aproveito para conhecer
seu pai. Que tal? Acrescentou o jovem senhor.
O menino concordou e lá se foram os dois.
O quadro, com que se deparou o dadivoso lojista, ao entrar no
As 48 reflexões de um sonho que não tem fim
barraco, era de lastimar.
No entanto, pai e filho sorriam diante do alimento, que o menino
rapidamente dividiu em dois pratos e serviu logo ao chegar em
casa.
Depois que os dois terminaram a rápida refeição, a primeira
nos últimos dois dias, o nobre comerciante despediu-se e retornou ao
seu lar, prometendo voltar em breve.
Alguns dias se passaram, quando, também num final de tarde,
entram na loja o menino e seu pai, este um pouco mais disposto, procurando
pelo dono.
Vieram para agradecer, disseram à jovem senhora que estava
atendendo no balcão, ao tempo que queriam saber o que poderiam
fazer para retribuir a dádiva da comida limpa e quentinha, que haviam
recebido dele.
Enquanto seu pai falava com a atendente, o menino começou a
juntar pedaços de papel que estavam no chão, quando chegou o dono
da loja, marido da senhora que os atendia.
Alegria, abraços e boa conversa. Ao se despedirem, o lojista
olha demoradamente para o menino e lhe diz:
– Meu pequeno, você não tem o que me agradecer, eu apenas
fiz o que faria por um filho meu. Fico feliz de ter podido ajudar. No
entanto, se você quiser, poderá vir trabalhar comigo, ajudando-me na
loja, assim, não será preciso você sair por aí pedindo comida, caso o
seu pai volte a adoecer. Que tal?
O menino timidamente olhou para o seu pai, como a perguntar
com o olhar: e aí, o que eu digo?
O pai, discretamente lhe fez um sinal afirmativo com a cabeça,
sem nada falar.
A partir daí, o menino começou trabalhar. Passado um tempo,
voltou para a escola, e continuou trabalhando.
Cresceu, tornou-se adulto e, na loja continuava a trabalhar.
Sempre com muita seriedade, responsabilidade e espírito de gratidão.
Seu pai veio a falecer, devido a idade avançada.
O casal de lojistas não tinha filhos. Com o tempo, chegou a
velhice dos dois. Logo mais, a esposa também falecera.
E aquele pequeno menino, agora já um homem, foi quem ficou
cuidando da loja e também do bondoso lojista, amparando-o na velhice,
auxiliando-o na enfermidade, acompanhando-o no dia-a-dia,
como devotado filho.
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 49
E pensar que tudo começou com um prato de comida!
Uma pequena dádiva, modificando destinos.
Um sorriso, um gesto de carinho, um telefonema, um abraço,
um beijo, uma palavra de apoio e de incentivo, uma flor, um bilhete,
um aceno, um bombom, um copo com água, um pedaço de pão.
Nós podemos fazer muito, com tão pouco...
“Nós não podemos criar uma outra alma, mas podemos
despertar a alma que está adormecida.”
Janusz Korczak
As 50 reflexões de um sonho que não tem fim
AS QUATRO ESTAÇÕES
Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos aprendessem
a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele
mandou cada um em uma viagem, para observar uma parreira que
estava plantada em um distante local.
O primeiro filho foi lá no inverno, o segundo na primavera, o
terceiro no verão e o quarto e mais jovem, no outono.
Todos eles partiram e quando retornaram, o pai os reuniu, e
pediu que cada um descrevesse o que tinham visto.
O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida.
O segundo filho disse que não, que ela era recoberta de botões
verdes e cheia de promessas.
O terceiro filho discordou; disse que ela estava coberta de flores,
que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria
dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.
O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore
estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas.
O homem então explicou a seus filhos que todos eles estavam
certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore.
Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa,
por apenas uma estação, e que a essência de quem ela é, o prazer, a
alegria e o amor que vêm daquela vida podem apenas ser medidos ao
final, quando todas as estações estão completas.
Se você desistir quando for inverno, você perderá a promessa
da primavera, a beleza de seu verão, a expectativa do outono.
Não permita que a dor de uma estação destrua a alegria de todas
as outras. Não julgue a vida apenas por uma estação difícil. Persevere
através dos caminhos difíceis, e melhores tempos certamente
virão de uma hora para a outra.
“A verdade jamais se torna erro pelo fato de ninguém a ver.”
Mahatma Gandhi
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 51
AS TRÊS PENEIRAS
Um homem foi ao encontro de Sócrates, levando ao filósofo
uma informação que julgava de seu interesse:
– Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
– Espera - disse o sábio - antes de contar-me, quero saber se
fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
– Três peneiras? Que queres dizer?
– Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces,
preste bastante atenção.
– A primeira é a peneira da verdade. Tens certeza de que isso
que queres dizer-me é verdade?
– Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se
é verdade.
– A segunda peneira é a da bondade. Com certeza, deves ter
passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
– Devo confessar que não.
– A terceira peneira é a da utilidade. Pensaste bem se é útil o
que vieste falar a respeito do meu amigo?
– Útil? Na verdade, não.
– Então - disse-lhe o sábio - se o que queres contar-me não é
verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas
para ti.
“Antes de começar a criticar os defeitos dos outros,
enumere ao menos dez dos teus.”
Abraham Lincoln
As 52 reflexões de um sonho que não tem fim
AUXÍLIO MÚTUO
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam
dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto
possível contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quando
foram surpreendidos por uma criança semi-morta na estrada, ao
sabor da ventania de inverno.
Um deles, fixou o singular achado e exclamou, irritadiço:
– Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo
mesmo. Sigamos à frente.
O outro, porém, mais piedoso, considerou:
– Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.
– Não posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado
e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Precisamos
chegar à aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou
para adiante em largas passadas.
O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o
menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente
ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante,
embora mais lentamente.
A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando
o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria
do povoado que buscava.
Com enorme surpresa, porém, não encontrou o colega que havia
seguido na frente.
Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o
infeliz viajante encontrado já sem vida numa vala do caminho completamente
alagado.
Seguindo a pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se,
não resistiu a onda de frio que se fizera violenta e com o aumento da
intensidade da chuva, tombou encharcado, sem recursos com que
pudesse fazer face ao congelamento.
Enquanto que o bondoso companheiro, recebendo em troca o
suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou
os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre.
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 53
Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino
abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para
ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando
as bênçãos da salvação recíproca.
“As atitudes são muito mais importantes do que os fatos.”
Alexander Fleming
As 54 reflexões de um sonho que não tem fim
CENOURAS, OVOS E CAFÉ
Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as
coisas estavam difíceis para ela.
Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada
de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava
resolvido um outro surgia.
Seu pai, um “chef”, levou-a até a cozinha dele. Encheu três
panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto.
Logo, as panelas começaram a ferver. Numa ele colocou cenouras,
noutra colocou ovos e na última, pó de café. Deixou que tudo
fervesse, sem dizer uma palavra.
A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando
o que ele estaria fazendo.
Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás.
Pescou as cenouras e colocou-as numa tigela. Retirou os ovos e colocou-
os em outra tigela. Então pegou o café com uma concha e colocou-
o numa xícara.
Virando-se para ela, perguntou:
– Querida, o que você está vendo?
– Cenouras, ovos e café - ela respondeu.
Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as
cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.
Então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu
e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com
a fervura.
Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela
sorriu ao provar seu aroma delicioso.
Então, ela perguntou humildemente:
– O que isto significa, pai?
Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade,
água fervendo, mas, que cada um reagira de maneira diferente.
A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas, depois de ter
sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil.
Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido
interior. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 55
interior se tornou mais rijo.
O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado
na água fervente, ele havia mudado a água.
– Qual deles é você? - ele perguntou à sua filha.
Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde?
Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?
“Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la
como se os milagres não existissem. A segunda é
vivê-la como se tudo fosse um milagre.”
Albert Einstein
As 56 reflexões de um sonho que não tem fim
CONSTRUINDO PONTES
Dois irmãos, que moravam em fazendas vizinhas, separadas
apenas por um riacho, entraram
em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas, agora tudo havia
mudado. O que começou com um pequeno mal entendido, explodiu
numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem na sua porta.
Ao abri-la, notou um homem com ferramentas de carpinteiro.
– Estou procurando trabalho - disse ele - talvez você tenha
algum serviço para mim.
– Sim, claro! - disse o fazendeiro - vê aquela fazenda ali, além
do riacho? É do meu vizinho. Na realidade do meu irmão mais novo.
Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira
ali no celeiro? Pois a use para construir uma cerca bem alta.
– Acho que entendo a situação - disse o carpinteiro.
O irmão mais velho entregou o material necessário para a obra
e foi para a cidade. O homem ficou ali trabalhando o dia inteiro.
Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez da
cerca, uma ponte fora construída, ligando as duas margens do riacho.
Era um belo trabalho, mas, o fazendeiro ficou enfurecido e falou:
– Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que
lhe contei.
Mas, as surpresas não pararam aí. Ao olhar novamente para a
ponte viu seu irmão se aproximando de braços abertos. Por um instante
permaneceu imóvel do seu lado do rio. Mas, de repente, num só
impulso, correu na direção do outro e abraçaram-se no meio da ponte.
Enquanto isso, o carpinteiro que fez o trabalho ia partindo.
– Espere, fique conosco! Disse o irmão mais velho.
E o carpinteiro respondeu:
– Eu adoraria, mas tenho outras pontes para construir.
“Não se deve interromper o diálogo, porque muitas vezes,
o silêncio, envenena as relações.”
Roberto Marinho
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 57
DANDO O MELHOR
Muitas coisas se falam a respeito de Beethoven. O fato de ter
composto extraordinárias sinfonias, mesmo após a total surdez, é
sempre recordado.
Exatamente por causa de sua surdez, ele era pouco sociável.
Enquanto pôde, escondeu o fato de sua audição estar comprometida.
Evitava as pessoas, porque a conversa se lhe tornara uma prática difícil
e humilhante. Era o atestado público da sua deficiência auditiva.
Certo dia, um amigo de Beethoven foi surpreendido pela morte
súbita de seu filho. Assim que soube, o músico correu para a casa
dele, pleno de sofrimento.
Beethoven não tinha palavras de conforto para oferecer. Não
sabia o que dizer. Percebeu, contudo, que num canto da sala havia
um piano.
Durante 30 minutos, ele extravasou suas emoções da maneira
mais eloqüente que podia. Tocou piano. Ao contato dos seus dedos,
as teclas acionadas emitiram lamentos e melodiosa harmonia de consolo.
Assim que terminou, ele foi embora. Mais tarde, o amigo comentou
que nenhuma outra visita havia sido tão significativa quanto
aquela.
Na ausência de palavras, Beethoven deixou que falassem os
seus mais sinceros sentimentos.
“Não existe verdadeira inteligência sem bondade.”
Ludwig van Beethoven
As 58 reflexões de um sonho que não tem fim
DEFICIÊNCIAS
Você realmente sabe o que é uma pessoa deficiente?
Pois, aqui vão algumas definições interessantes:
Deficiente - É aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que
vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco - É quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego - É aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de
fome, na miséria, infeliz e só tem olhos para seus míseros problemas
e pequenas dores.
Surdo - É aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de
um amigo ou o apelo de um irmão, pois, está sempre apressado para
o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
Mudo - É aquele que não consegue falar o que sente e se esconde
por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico - É quem não consegue andar na direção daqueles
que precisam de sua ajuda.
Diabético - É quem não consegue ser doce.
Anão - É quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
Miseráveis - São todos aqueles que não conseguem estender a
mão aos mais necessitados, abandonados e infelizes.
“Falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem.”
Chico Xavier
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 59
DUAS CRIANÇAS
Conta certa lenda, que estavam duas crianças patinando num
lago congelado. Era uma tarde nublada e fria, e as crianças brincavam
despreocupadas.
De repente, o gelo se quebrou e uma delas caiu, ficando presa
na fenda que se formou. A outra, vendo seu amigo preso e se congelando,
tirou um dos patins e começou a golpear o gelo com todas as
suas forças, conseguindo por fim, quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram, e viram o que havia acontecido,
perguntaram ao menino:
– Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha
conseguido quebrar o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
Nesse instante, um ancião que passava pelo local comentou:
– Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
– Pode nos dizer como?
E respondeu o idoso:
– É simples, não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer
que não seria capaz.
“Não há barreiras que o ser humano não possa transpor.”
Helen Keller
As 60 reflexões de um sonho que não tem fim
DUVIDANDO DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Um homem foi cortar o cabelo e a barba. Como sempre acontece,
ele e o barbeiro ficaram conversando sobre várias coisas, até
que – por causa de uma notícia de jornal sobre meninos abandonados
– o barbeiro afirmou:
– Como o senhor pode ver, esta tragédia mostra que Deus não
existe.
– Como? Indagou o cliente.
– O senhor não lê jornais? Temos tanta gente sofrendo, crianças
abandonadas, crimes de todo tipo. Se Deus existisse, não haveria
sofrimento.
O cliente ficou pensando, mas, o corte estava quase no fim, e
resolveu não prolongar a conversa. Voltaram a discutir temas mais
amenos, o serviço foi terminado, o cliente pagou e saiu.
Entretanto, a primeira coisa que viu foi um mendigo, com barba
de muitos dias e longos cabelos desgrenhados. Imediatamente,
voltou para a barbearia e falou para o barbeiro que o atendera:
– Sabe de uma coisa? Os barbeiros não existem.
– Como não existem? Eu estou aqui e sou barbeiro.
– Não existem! Insistiu o homem. Porque, se existissem, não
haveria pessoas com barba tão grande e cabelo tão desgrenhado como
o que acabo de ver na esquina.
– Posso garantir que os barbeiros existem. Acontece que este
homem nunca veio até aqui.
– Exatamente! Então, para responder sua pergunta, Deus também
existe. O que acontece é que as pessoas não vão até Ele. Se O
buscassem, seriam mais solidárias e não haveria tanta miséria e infelicidade
no mundo.
“Herege não é aquele que arde na fogueira,
e sim aquele que a acende.”
William Shakespeare
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 61
ECO OU VIDA
Um filho e seu pai caminhavam pelas montanhas. De repente
seu filho, cai, se machuca e grita:
– Ai!
Para sua surpresa escuta a voz se repetir, em algum lugar da
montanha:
– Ai!
Curioso, pergunta:
– Quem é você?
Recebe como resposta:
– Quem é você?
Contrariado, grita:
– Seu covarde!
Escuta como resposta:
– Seu covarde!
Olha para o pai e pergunta aflito:
– O que é isso?
O pai sorri e fala:
– Meu filho, preste atenção. Então o pai grita em direção a
montanha:
– Eu admiro você!
A voz responde:
– Eu admiro você!
De novo, o homem grita:
– Você é um campeão!
A voz responde:
– Você é um campeão!
O menino fica espantado, não entende.
Então, o pai explica:
– As pessoas chamam isso de eco, mas, na verdade isso é a
vida. Ela lhe dá de volta tudo o que você diz ou faz.
Nossa vida é simplesmente o reflexo das nossas ações. Se você
quer mais amor no mundo, crie mais amor no seu coração.
Se você quer mais competência da sua equipe, desenvolva a sua
competência.
O mundo é somente a prova da nossa capacidade. Tanto no
As 62 reflexões de um sonho que não tem fim
plano pessoal quanto no profissional, a vida vai lhe dar de volta o
que você deu à ela.
Sua vida não é uma coincidência, é a conseqüência das suas
ações!
“Transformem em jardins os campos de batalha.”
São Francisco de Assis
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 63
ENFRENTANDO OS OBSTÁCULOS
Durante anos, um velho fazendeiro tinha arado ao redor de
uma grande pedra, que ficava no centro de um de seus campos de
cultivo. Ele já havia quebrado várias lâminas do arado devido aquela
pedra e tinha cultivado um ódio mórbido por ela.
Um dia, depois de quebrar outro arado e se lembrando de toda
a dificuldade que a pedra lhe tinha causado durante anos, ele decidiu
finalmente fazer algo que resolvesse o problema definitivamente.
Quando pôs uma alavanca debaixo da pedra, foi pego de surpresa
ao descobrir que a pedra tinha apenas poucos centímetros de
espessura, e que ele poderia, facilmente, quebrá-la com uma marreta.
Quando estava carregando os pedaços da pedra ele não se conteve
e começou a rir sozinho, enquanto se lembrava de toda a dificuldade
que a pedra tinha lhe causado durante anos e como teria sido
melhor se tivesse enfrentado o obstáculo inicialmente e quebrado a
pedra mais cedo.
“Obstáculos são aquelas coisas medonhas que você vê,
quando tira os olhos de seu objetivo.”
Henry Ford
As 64 reflexões de um sonho que não tem fim
ESOPO E A LÍNGUA
Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de
um conhecido chefe militar da antiga Grécia.
Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro
sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a
dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:
– Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra
está à venda no mercado.
– Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que está
falando? Como podes afirmar tal coisa?
– Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei
a maior virtude da Terra.
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns
minutos, voltou carregando um pequeno embrulho.
Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de
língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se.
– Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente,
a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar,
esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinamentos dos filósofos
são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras
dos poetas se tornam conhecidas de todos. Por acaso podeis negar
essas verdades, meu amo?
– Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado,
que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.
– É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de
meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de
toda terra.
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a alguns
minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro.
Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua.
Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente
resposta:
– Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo
que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando
relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através
dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela,
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 65
as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas
e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através
da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos
prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio
social. Por acaso podeis refutar o que digo? Indagou Esopo.
Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos
os senhores calaram-se, comovidos e o velho chefe, no mesmo instante,
reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como
escravo, deu-lhe a liberdade.
Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador
de fábulas muito conhecido da Antigüidade e cujas histórias até
hoje se espalham por todo mundo.
“O tempo que você for levar para falar mal de alguém,
use-o para falar bem de quem merece.”
Manoel de Nóbrega
As 66 reflexões de um sonho que não tem fim
ESTRELA DO MAR
Era uma vez, um escritor que morava em uma tranqüila praia,
junto de uma colônia de pescadores.
Todas as manhãs, ele caminhava à beira do mar para se inspirar
e à tarde ficava em casa escrevendo.
Certo dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia
dançar.
Ao chegar perto, ele reparou que se tratava de um jovem que
recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente
de volta ao oceano.
– Por que está fazendo isso?, perguntou o escritor.
– Você não vê!, explicou o jovem: a maré está baixa e o sol
está brilhando. Elas irão secar e morrer se ficarem aqui na areia.
O escritor espantou-se.
– Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por
este mundo afora e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas
pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta
ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma.
O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao
oceano, olhou para o escritor e disse:
– Para essa aqui eu fiz a diferença.
Naquela noite o escritor não conseguiu escrever sequer uma
linha, nem conseguiu adormecer. Pela manhã, voltou à praia, procurou
o jovem e uniu-se a ele, juntos, começaram a jogar estrelas-domar
de volta ao oceano.
Sejamos, portanto, mais um dos que querem fazer do mundo
um lugar melhor.
Sejamos a diferença!
“Não importa o quanto fazemos, mas, quanto
amor colocamos naquilo que fazemos.”
Madre Teresa de Calcutá
ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 67
EU OUVI UM NÃO
Desde pequena Julia tinha uma paixão: dançar. Ela sonhava
em ser uma grande bailarina do Ballet Bolshoi.
Um dia, Julia teve sua grande chance. Conseguira uma audiência
com um dos maiores mestres do Bolshoi, que estava selecionando
aspirantes para a companhia.
Dançou como se fosse seu último dia na Terra. Colocou tudo
que sentia e que aprendera em cada movimento. Ao final, aproximou-
se do mestre e lhe perguntou:
– Então, o senhor acha que eu posso me tornar uma grande
bailarina?
Na viagem de volta à sua aldeia, Julia, em meio às lagrimas,
imaginou que nunca mais aquele “não” sairia de sua mente.
Dez anos mais tarde Julia, já uma estimada professora de ballet,
criou coragem de ir à performance anual do Bolshoi em sua região.
Sentou-se bem à frente e notou que aquele mesmo senhor ainda
era o mestre.
Após o concerto, aproximou-se do cavalheiro e lhe contou o
quanto doera, anos atrás, ouvir-lhe dizer que não seria capaz de participar
do Bolshoi.
– Mas, minha filha, eu digo isso a todas as aspirantes, respondeu
o mestre.
– Como o senhor poderia cometer uma injustiça dessas? Eu
dediquei toda minha vida! Todos diziam que eu tinha o dom. Eu poderia
ter sido um sucesso se não fosse o descaso com que o senhor
me avaliou!
Havia solidariedade e compreensão na voz do mestre, mas, ele
não hesitou ao responder:
– Perdoe-me, minha filha, mas, você nunca poderia ter sido
grande o suficiente, se você foi capaz de abandonar seu sonho ao
ouvir o primeiro não.
“A persistência é o caminho do êxito.”
Charles Chaplin
As 68 reflexões de um sonho que não tem fim
FLORES NA ESTRADA
Um certo homem morava numa cidade grande e trabalhava
numa fábrica, na região periférica desta metrópole. Todos os dias, ele
pegava o ônibus pela manhã e viajava cinqüenta minutos até o trabalho.
À tardinha fazia a mesma coisa voltando para a casa.
No ponto seguinte ao que o homem subia, entrava uma velhinha,
que procurava sempre sentar próxima à janela. Abria a bolsa,
tirava um pacotinho e passava a viagem toda jogando alguma coisa
para fora do ônibus.
Um dia, o homem reparou na cena e ficou muito curioso. No
dia seguinte, a mesma coisa.
Certa vez, o homem sentou-se ao lado da velhinha e não resistiu:
– Bom dia, desculpe a curiosidade, mas, o que a senhora está
jogando pela janela?
– Bom dia, respondeu a velhinha. Jogo sementes.
– Sementes? Sementes de que?
– De flor. É que eu viajo neste ônibus todos os dias. Olho para
fora e a estrada é tão vazia. Gostaria de poder viajar vendo flores
coloridas por todo o caminho. Imagine como seria bom.
– Mas, a senhora não vê que as sementes caem no asfalto, são
esmagadas pelos pneus dos carros, devoradas pelos passarinhos. A
senhora acha que essas flores vão nascer aí, na beira da estrada?
– Acho, meu filho. Mesmo que muitas sejam perdidas, algumas
certamente acabam caindo na terra e com o tempo vão brotar.
– Mesmo assim, demoram a crescer, precisam de água.
– Ah, eu faço minha parte. Sempre há dias de chuva. Além
disso, apesar da demora, se eu não jogar as sementes, as flores nunca
vão nascer.
Dizendo isso, a velhinha virou-se para a janela aberta e recomeçou
seu “trabalho”. O homem desceu logo adiante, achando que a
velhinha já estava meio caduca.
O tempo passou...
Um certo dia, no mesmo ônibus, sentado próximo à janela, o
homem levou um susto. Olhou para fora e viu margaridas na beira da
estrada, hortênsias azuis, rosas, cravos, dálias. A paisagem estava
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colorida, perfumada e linda.
O homem lembrou-se da velhinha, procurou-a no ônibus e acabou
perguntando para o cobrador, que conhecia todo mundo.
– A velhinha das sementes? Pois é, morreu de pneumonia no
mês passado.
O homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem
florida pela janela. Quem diria, as flores brotaram mesmo, pensou.
Mas, de que adiantou o trabalho da velhinha? A coitada morreu
e não pode ver esta beleza toda.
Nesse instante, o homem escutou uma risada de criança. No
banco da frente, um garotinho apontava pela janela entusiasmado:
– Olha mãe, que lindo, quanta flor pela estrada. Como se chamam
aquelas azuis?
Então, o homem entendeu o que a velhinha tinha feito. Mesmo
não estando ali para contemplar as flores que tinha plantado, a velhinha
devia estar feliz. Afinal, ela tinha dado um presente maravilhoso
para as pessoas. No dia seguinte, o homem entrou no ônibus, sentouse
próximo a uma janela e tirou um pacotinho de sementes do bolso.
“O tempo é algo que não volta atrás, portanto,
plante seu jardim e decore sua alma ao invés
de esperar que alguém lhe mande flores.”
William Shakespeare
As 70 reflexões de um sonho que não tem fim
FRANCISCO E O LOBO
Há muito tempo atrás, Gúbio, uma cidade na Úmbria, Itália,
estava tomada de grande medo. Na floresta da região vivia um grande
lobo, terrível e feroz, o qual, não somente devorava os animais,
como os homens, de modo que todos do povoado estavam apavorados.
Por este motivo, cercaram a cidade com altas muralhas e reforçaram
as portas. Todos andavam armados quando saíam da cidade,
como se fossem para um combate.
Certa vez, quando um homem chamado Francisco chegou naquela
cidade, estranhou muito o medo do povo. Percebeu que a culpa
não podia ser unicamente do lobo. Havia no fundo dos corações uma
outra causa que era tão destrutiva, como parecia ser a causa do lobo.
Logo, Francisco ofereceu-se para ajudar.
Resolveu sair ao encontro do lobo, sozinho e desarmado, mas,
cheio de simpatia e benevolência pelo animal.
O perigoso lobo, de fato, foi ao encontro de Francisco, raivoso
e de boca aberta pronto para devorá-lo!
Mas, quando o lobo percebeu as boas intenções de Francisco e
ouviu como este se dirigia a ele como a um “irmão”, cessou de correr
e ficou muito surpreendido.
As boas vibrações de Francisco de Assis anularam a violência
que havia no “irmãozinho” lobo.
De olhos arregalados, viu que esse homem o olhava com muita
bondade.
Francisco então falou para o lobo:
– Irmãozinho lobo, quero somente conversar com você, caso
você esteja me entendendo, levante, por favor, a sua patinha para
mim!
O irmãozinho lobo, então, perante tão forte vibração de amor e
carinho, perdeu toda a sua maldade. Levantou confiante, a pata da
frente, e calmamente a pôs na mão aberta de Francisco.
Então, Francisco disse-lhe amorosamente:
– Querido irmãozinho lobo, vou fazer um trato com você. De
hoje em diante, vou cuidar de você meu irmão. Você vai morar em
minha casa, vou lhe dar comida e você irá sempre me acompanhar e
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seremos sempre amigos. Você por sua vez, também será amigo de
todas as pessoas desta cidade, pois, de agora em diante você terá uma
casa, comida e carinho, sendo assim, não precisará mais matar nem
agredir ninguém, para sobreviver.
Com a promessa de nunca mais lesar nem homem, nem animal,
foi o lobo com Francisco até a cidade.
Também o povo da cidade abandonou sua raiva e começou a
chamar o lobo de "irmão", prometendo dar-lhe todos os dias o alimento
necessário.
Finalmente, o “irmão lobo” morreu de velhice, pelo que, todos
da cidade tiveram grande pesar.
Ainda hoje se mostra em Gúbio, um sarcófago feito de pedra,
no qual os ossos do lobo estão depositados e guardados com grande
carinho e respeito durante séculos.
“Todas as coisas da criação, são filhos do Pai e irmãos do homem.
Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda.
Todas as criaturas em desgraça têm o mesmo direito
a serem protegidas.”
São Francisco de Assis
As 72 reflexões de um sonho que não tem fim
GRATIDÃO
O homem pôr detrás do balcão olhava à rua de forma distraída.
Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o
vidro da vitrine.
Os olhos, da cor do céu, brilhavam quando viu um determinado
objeto. Entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesa azul.
– É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito?, diz
ela.
O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:
– Quanto de dinheiro você tem?
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho
e foi desfazer os nós. Colocou-o sobre o balcão e feliz, disse:
– Isso dá?
Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.
– Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha.
Desde que morreu nossa mãe ela cuida da gente e não tem tempo
para ela. É aniversário dela e tenho certeza que ficará feliz com o
colar, que é da cor de seus olhos.
O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um
estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado
com uma fita verde.
– Tome! - disse para a garota. Leve com cuidado.
Ela saiu feliz saltitando pela rua.
Ainda não acabara o dia quando uma linda jovem, de cabelos
loiros e olhos azuis, adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido
embrulho desfeito e indagou:
– Este colar foi comprado aqui?
– Sim senhora, respondeu o homem.
– E quanto custou?
– Ah!, falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da
minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o
cliente.
A moça continuou:
– Mas, minha irmã tinha somente algumas moedas! O colar é
verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo!
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O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho,
colocou a fita e o devolveu a jovem, dizendo:
– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar.
Ela deu tudo o que tinha.
“Se nossos olhos se afeiçoarem à contemplação da singeleza e da
simplicidade, singelos e simples serão nossos corações.”
Bezerra de Menezes
As 74 reflexões de um sonho que não tem fim
LENÇÓIS SUJOS
Um casal, recém-casados, mudou-se para um bairro muito
tranqüilo.
Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam
café, a mulher reparou em uma vizinha que pendurava len&cc