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bannerTrindade Santa, fonte de todas as bênçãos, nós vos louvamos
e agradecemos porque, através de nosso batismo, nos fizestes
povo de Deus, nesta centenária Diocese da Campanha, e nos
chamastes a ser discípulos missionários de Jesus Cristo.
          Neste tempo especial de Santas Missões Populares,
à luz do Vosso Espírito, dai-nos a graça de resgatar o
autêntico sentido da vida humana, de aprofundar
a experiência de comunhão fraterna em nossas
comunidades e de despertar para a ação em
defesa da vida, da natureza e da cidadania.
          Enfim, que formemos a Igreja da acolhida,
da alegria e da esperança.
Pela intercessão de nossa mãe e padroeira,
a Senhora do Carmo, sejamos Missionários e
Missionárias com os mesmos sentimentos e opções de Jesus.
          Amém.



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♥♥♥ Reflexões ♥♥♥
♥♥♥ Reflexões ♥♥♥

 

 REFLEXÕES

Meu sonho não tem fim ............................................................... 10

A águia e a galinha ...................................................................... 13

A balança ..................................................................................... 14

A bolsa com batatas ..................................................................... 16

A carroça vazia ............................................................................ 17

A força de um gesto de carinho ................................................... 18

A grandeza de um pequeno gesto ................................................ 20

A importância do horizonte ......................................................... 22

A inveja e a competência ............................................................. 23

A janela ........................................................................................ 25

A lenda do monge e do escorpião ................................................ 27

A lição do jardineiro .................................................................... 28

A menina e o cão .......................................................................... 29

A panela de sopa .......................................................................... 31

A pedra no caminho ..................................................................... 32

A porta mais larga do mundo ....................................................... 34

A porta negra ................................................................................ 36

A princesa Nola ............................................................................ 37

A verdadeira riqueza .................................................................... 39

A vida é um espelho ..................................................................... 40

Amor em uma lata de leite ........................................................... 42

Aquilo que o coração carrega ...................................................... 43

As cicatrizes do descontrole ........................................................ 44

As lições de um lápis ................................................................... 46

As pequenas dádivas .................................................................... 48

As quatro estações ........................................................................ 51

As três peneiras ............................................................................ 52

Auxílio mútuo .............................................................................. 53

Cenouras, ovos e café .................................................................. 55

Construindo pontes ...................................................................... 57

Dando o melhor ............................................................................ 58

Deficiências .................................................................................. 59

Duas crianças ............................................................................... 60

Duvidando da existência de Deus ................................................ 61

Eco ou vida .................................................................................. 62

Enfrentando os obstáculos ........................................................... 64

Esopo e a língua ........................................................................... 65

Estrela do mar .............................................................................. 67

Eu ouvi um não ............................................................................ 68

Flores na estrada .......................................................................... 69

Francisco e o lobo ........................................................................ 71

Gratidão ........................................................................................ 73

Lençóis sujos ................................................................................ 75

Lição de criatividade .................................................................... 76

Mais cinco minutos ...................................................................... 77

Matando uma criança ................................................................... 78

Mundo virtual ............................................................................... 79

O amor ......................................................................................... 81

O amor de uma mãe no inferno .................................................... 83

O barqueiro .................................................................................. 85

O cavalo e o fazendeiro ................................................................ 86

O céu e o inferno íntimos ............................................................. 87

O estranho homem tatuado .......................................................... 88

O furo no barco ............................................................................ 91

O garoto e a flor ........................................................................... 92

O homem triste ............................................................................. 94

O lenhador e a raposa ................................................................... 95

O monge e a prostituta ................................................................. 96

O náufrago ................................................................................... 98

O pacote de biscoito ..................................................................... 99

O plantador de árvores ................................................................. 100

O poder da gentileza .................................................................... 101

O presente mais especial .............................................................. 103

O rei e a camisa ............................................................................ 105

O reino a que você pertence ......................................................... 107

O sorriso de Deus ......................................................................... 109

O último dos mortais .................................................................... 110

O vendedor de balões ................................................................... 111

O veredicto ................................................................................... 112

O zelador da fonte ........................................................................ 114

Pare, por favor! ............................................................................ 116

Pedaço de carvão .......................................................................... 118

Persistência e fé ............................................................................ 120

Pés grandes, coração enorme ....................................................... 122

Quando a bondade se expressa .................................................... 123

Reconhecimento ........................................................................... 125

Reconstruindo o mundo ............................................................... 127

Riqueza e pobreza ........................................................................ 128

Sem julgamentos .......................................................................... 130

Ser feliz é uma decisão ................................................................ 132

Telha de vidro .............................................................................. 133

Trabalhar com alegria .................................................................. 135

Três dias para ver ......................................................................... 137

Um certo homem .......................................................................... 139

Um coração de ouro ..................................................................... 141

Uma lição de amor ....................................................................... 148

Uma lição de perdão na escravidão ............................................. 149

Uma oferta caridosa ..................................................................... 151

Uma sólida amizade ..................................................................... 153

Uma virtude valiosa ..................................................................... 156

Um presente valioso ..................................................................... 143

Uma casa no caminho .................................................................. 145

Uma taça de sorvete ..................................................................... 155

INTRODUÇÃO

O que buscamos nesta vida?

O que realmente é importante para nós?

Certamente a essência de nossa existência, não é apenas a busca

de nossa satisfação individual, buscando aproveitar ao máximo

todos os nossos dias. A vida tem que ser muito mais do que isso.

Obviamente, existe um sentido melhor e muito maior para vivermos.

Certamente, estamos nesta vida por diversos motivos, alguns

essenciais, como evoluirmos como indivíduo.

O crescimento material e econômico é natural e não é pecado

algum vivermos bem, com conforto. Porém, devemos ter consciência

de que todos os nossos bens, na verdade, não são nossos, são empréstimos.

Jamais devemos desperdiçar as oportunidades que a vida nos

dá para nos aprimorarmos e evoluirmos como pessoas.

Muitas vezes, nossos fracassos são nossos melhores professores

e são nestes momentos mais difíceis, que necessitamos encontrar

uma razão maior para continuarmos em frente, em nossa luta. Nossa

superação, em certos momentos com suor e lágrimas, faz com que

nos tornemos pessoas melhores. A capacidade de resistir ao desânimo,

as tentações, privações e tristezas, continuando em nosso caminho

evolutivo, é o que nos torna pessoas especiais.

Os “grandes sonhadores”, a essência de nosso trabalho de

conscientização e motivação - cujos pensamentos vocês conhecerão

um pouco mais, expressos nas frases que encerram cada reflexão incluída

nesta obra - não vieram entre nós apenas com a missão de juntar

dinheiro e comer do bom e do melhor. Alguns deles até tiveram

este privilégio, no entanto, esta não era a razão de suas vidas.

É muito difícil imaginar pessoas como Martin Luther King,

Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Albert Schweitzer, Irmã Dulce,

Betinho, Bezerra de Menezes, Chico Xavier e tantas outras, que

constam neste livro ou milhares de outras anônimas, que lutaram e

lutam para melhorar a vida dos mais fracos, motivadas pela idéia de

ganhar dinheiro.

O que moveu essas pessoas, tão generosas a trabalhar, diariamente,

por toda suas vidas pelos menos favorecidos e pelo bem comum,

sem jamais desistir, foi a busca de seus sonhos, de um mundo

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 7

melhor, mais justo e fraterno. Quando você tem sonhos com essa

magnitude, essa grandeza de espírito, você desenvolve uma força

extra, capaz de levá-lo à lugares inimagináveis.

Infelizmente, muitos de nós se perdem nesta viagem e acabam

distorcendo o sentido de sua existência. Focando todos os seus esforços

apenas para acumular bens materiais durante toda a sua vida.

Entretanto, quando suas histórias chegam ao fim, percebem que não

poderão levar daqui suas riquezas e que a única coisa que se leva

dessa vida, é o bem que fazemos ao próximo.

Espero que, além dos pensamentos de nossos “grandes sonhadores”,

as reflexões e parábolas de domínio público, contidas neste

livro e selecionadas entre milhares de textos utilizados por esta organização

em mais de duas décadas de existência, faça-os refletir ainda

mais sobre a realidade de nossos irmãos excluídos, esquecidos e infelizes.

Uma situação que, infelizmente, em diversas ocasiões, passa

desapercebida, pois, muitas vezes, a triste realidade de nossos semelhantes

é uma tragédia a conta-gotas, dispersa, silenciosa, escondida,

desde os humildes rincões e majestosas fazendas das áreas rurais até

as periferias e condomínios de luxo das grandes cidades. Fica lá, tão

escondida e esquecida, que aqueles que têm condições dignas de sobrevivência,

liberdade, paz e principalmente, são felizes, não enxergam

seus irmãos famintos, enclausurados e infelizes. Para muitos de

nós, estes males se transformaram em números, estatísticas, como se

não trouxessem juntos histórias, nomes e seus dramas.

Agora é o tempo para transformarmos em realidade nossas

promessas de melhorarmos como seres humanos e filhos de Deus, de

subirmos do vale das trevas da intolerância, injustiça e indiferença

para com nosso semelhante, ao caminho iluminado pelo sol da justiça,

compreensão, bondade e fraternidade.

Enquanto você lê a introdução desta obra, o mundo contabiliza

mais algumas centenas de mortes, vítimas da fome, da pobreza, da

opressão e da infelicidade. Para muitas famílias mais um luto, mais

uma perda irreparável, para nós, como humanidade, um pouco mais

de nosso maior tesouro se perdendo, pela indiferença, ganância e

crueldade dos mais poderosos e abastados, e principalmente, pela

conformidade e descaso, pois, como já dizia o saudoso e inesquecível

Martin Luther King, “nós não lamentamos tanto os crimes dos

perversos, quanto o estarrecedor silêncio dos bondosos”.

As 8 reflexões de um sonho que não tem fim

Ninguém jamais poderá ser plenamente feliz e realizado, vendo

o sofrimento de seu semelhante.

Boa leitura.

Alex Cardoso de Melo

A ÁGUIA E A GALINHA

Um camponês criou um filhote de águia junto com suas galinhas,

tratando-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo

que ela pensasse que também era uma galinha.

Dava a mesma comida jogada no chão, a mesma água num

bebedouro rente ao solo, e fazendo-a ciscar para complementar a alimentação,

como se fosse uma galinha.

E a águia passou a se portar como se galinha fosse.

Certo dia, passou por sua casa um naturalista, que vendo a águia

ciscando no chão, foi falar com o camponês:

– Isto não é uma galinha, é uma águia!

O camponês retrucou:

– Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!

O naturalista disse:

– Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa.

Levou-a para cima da casa, elevou-a nos braços e disse:

– Voa, você é uma águia, assuma sua natureza!

– Mas a águia não voou, e o camponês disse:

– Eu não falei que ela agora era uma galinha!

O naturalista disse: amanhã veremos.

No dia seguinte, logo de manhã, eles subiram até o alto de uma

montanha. O naturalista levantou a águia e disse:

– Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima e os campos

verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas.

Desperte para sua natureza, e voe como águia que és.

A águia começou a ver tudo aquilo e ficou maravilhada com a

beleza das coisas que nunca tinha visto, ficou também confusa no

início, sem entender o porquê tinha ficado tanto tempo alienada.

Então, ela sentiu seu sangue de águia correr nas veias, perfilou,

devagar, suas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu

no horizonte azul.

“Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.”

Helen Keller

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 13

A BALANÇA

Uma pobre senhora, com visível ar de derrota estampado no

rosto, entrou num armazém, se aproximou do proprietário, conhecido

pelo seu jeito grosseiro e lhe pediu fiado alguns mantimentos.

Ela explicou que o seu marido estava muito doente e não podia

trabalhar e que ela tinha sete filhos para alimentar.

O dono do armazém zombou dela e pediu que se retirasse do

seu estabelecimento.

Pensando na necessidade da sua família ela implorou:

– Por favor, eu lhe darei o dinheiro assim que eu tiver.

Ao que ele lhe respondeu que ela não tinha crédito e nem conta

na sua loja.

Em pé, no balcão ao lado, um freguês que assistia a conversa

entre os dois, se aproximou do dono do armazém e lhe disse que ele

deveria dar o que aquela mulher necessitava para a sua família por

sua conta.

Então o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:

– Você tem uma lista de mantimentos?

– Sim, respondeu ela.

– Muito bem, coloque a sua lista na balança e o quanto ela pesar,

eu lhe darei em mantimentos!

A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabeça curvada,

retirou da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o

depositou suavemente na balança.

Os três ficaram admirados, quando o prato da balança com o

papel desceu e permaneceu embaixo.

Completamente pasmo com o marcador da balança, o comerciante

virou-se lentamente para o seu freguês e comentou contrariado:

– Eu não posso acreditar!

O freguês sorriu e o homem começou a colocar os mantimentos

no outro prato da balança.

Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou colocando

mais e mais mantimentos até não caber mais nada.

O comerciante ficou parado ali por uns instantes olhando para

a balança, tentando entender o que havia acontecido.

Finalmente, ele pegou o pedaço de papel da balança e ficou

As 14 reflexões de um sonho que não tem fim

espantado, pois, não era uma lista de compras e sim uma oração que

dizia:

“Meu Senhor, o senhor conhece as minhas necessidades e eu

estou deixando isto em suas mãos”.

O homem deu as mercadorias para a pobre mulher no mais

completo silêncio, que agradeceu e deixou o armazém.

O freguês pagou a conta e disse:

– Valeu cada centavo.

Só mais tarde, o comerciante pôde reparar que a balança havia

quebrado. Entretanto, só Deus sabe o quanto pesa uma oração.

“O homem mais rico é o que tem menos necessidades.”

Chico Xavier

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 15

A BOLSA COM BATATAS

O professor pediu para que os alunos levassem batatas e uma

bolsa de plástico para a aula.

Ele pediu também para que separassem uma batata para cada

pessoa de quem sentiam mágoas, escrevessem os seus nomes nas

batatas e as colocassem dentro da bolsa. Algumas das bolsas ficaram

muito pesadas.

A tarefa consistia em, durante uma semana, levar a todos os

lados a bolsa com batatas. Naturalmente a condição das batatas foi se

deteriorando com o tempo. O incômodo de carregar a bolsa, a cada

momento, mostrava-lhes o tamanho do peso espiritual diário que a

mágoa ocasiona, bem como o fato de que, ao colocar a atenção na

bolsa, para não esquecê-la em nenhum lugar, os alunos deixavam de

prestar atenção em outras coisas que eram importantes para eles.

Esta é uma grande metáfora do preço que se paga, todos os

dias, para manter a dor, a insatisfação, a intolerância e a negatividade.

Quando damos importância aos problemas não resolvidos ou

às promessas não cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de mágoa,

aumentando o stress e roubando nossa alegria.

Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora, é a única forma de

trazer de volta a paz e a serenidade.

Jogue fora suas “batatas”!

“As pessoas te pesam?

Não as carregues nos ombros.

Leve-as no coração.”

Dom Hélder Câmara

As 16 reflexões de um sonho que não tem fim

A CARROÇA VAZIA

Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um

passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira

e depois de um pequeno silêncio me perguntou:

– Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma

coisa?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

– Estou ouvindo um barulho de carroça.

– Isso mesmo - disse meu pai - é uma carroça vazia.

Perguntei ao meu pai:

– Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a

vimos?

– Ora - respondeu meu pai - é muito fácil saber que uma carroça

está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior

é o barulho que faz.

Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando

demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com

grossura inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo

mundo e querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade

absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:

“Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz”.

“Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza

antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo.”

Albert Schweitzer

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 17

A FORÇA DE UM GESTO DE CARINHO

Certa vez, doutor Bezerra de Menezes, um renomado médico

brasileiro da segunda metade do século XIX, saía de uma reunião de

uma das entidades de que fazia parte na cidade do Rio de Janeiro,

então capital do Império do Brasil, quando localizou um “irmão em

sofrimento”, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa

suja e amarrotada. Os dois se olharam e doutor Bezerra compreendeu

logo que ali estava um caso todo particular para resolver. Bendito os

que têm olhos no coração! E ele sempre os teve.

Ele levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção,

o desabafo, o pedido:

– Doutor Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois

filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como vê, estou sem alimento

e febril!

Doutor Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro.

Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde.

Devido a situação e não tendo condições de auxiliá-lo, tornou-se

mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto

para o alto e, numa prece muda, pediu inspiração para solucionar

mais este problema. Depois, virando-se disse:

– Meu filho, você tem fé em Deus?

– Tenho e muita doutor Bezerra!

– Pois, então, receba este abraço.

E o abraçou envolvente e demoradamente. E, despedindo-se,

disse:

– Vá com Deus meu filho. E, em seu lar, faça o mesmo com

todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie em

Deus, que seu caso há de ser resolvido.

Doutor Bezerra partira. A caminho do lar, meditava: teria

cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em prova,

faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um

abraço. Não possuía nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não

estava mais em seu dedo. Tudo havia dado. Não tendo dinheiro, dera

algo de si mesmo ao irmão sofredor, boas vibrações, bom ânimo,

moeda da alma, mas, não tinha certeza de que isso lhe bastara. E,

neste estado de espírito, preocupado pela sorte de seu semelhante,

As 18 reflexões de um sonho que não tem fim

chegou ao lar.

Uma semana passara-se. Doutor Bezerra praticamente não se

recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas a serem resolvidos.

Após uma reunião, no mesmo prédio em que encontrara o

“irmão em sofrimento” na semana anterior, descia as escadas quando

alguém, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento,

toca-lhe o braço e lhe diz:

– Venho agradecer-lhe, doutor Bezerra, o abraço milagroso

que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui

saí logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei

minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos

todos a Deus. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece,

continha alimento, pois, dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos

sem febre e como que alimentados. E veio-me a inspiração,

guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu

meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego. Venho

lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si

mesmo, maior e melhor do que dinheiro!

O ambiente era tocante. Lágrimas caíam tanto dos olhos de

doutor Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido. E uma

prece muda, de dois corações unidos numa mesma força, subiu aos

céus.

“Soletremos antes de tudo o alfabeto da bondade.

Sem as primeiras letras do amor e da caridade,

jamais entenderemos o sagrado poema da vida.”

Bezerra de Menezes

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 19

A GRANDEZA DE UM PEQUENO GESTO

Logo após o término da Segunda Grande Guerra, a Europa

começou a ajuntar os cacos do que restara.

Grande parte da Inglaterra estava destruída. As ruínas estavam

por todo lugar. E, possivelmente, o lado mais triste da guerra tenha

sido assistir as criancinhas órfãs morrendo de fome, nas ruas das cidades

devastadas.

Certa manhã, de muito frio na capital londrina, um soldado

americano estava retornando ao acampamento. Numa esquina, ele

viu, do seu jipe, um menino com o nariz pressionado contra o vidro

de uma confeitaria.

Parou o veículo, desceu e se aproximou do garoto. Lá dentro,

o confeiteiro sovava a massa para uma fornada de rosquinhas.

Os olhos arregalados do menino, falava da fome que lhe devorava

as entranhas. Ele observava todos os movimentos do confeiteiro,

sem perder nenhum.

Através do vidro embaçado pela fumaça, o soldado viu as rosquinhas

quentes, de dar água na boca, sendo retiradas do forno. Logo

mais, o confeiteiro as colocou no balcão de vidro com todo o cuidado.

O soldado ouviu o gemido do menino e percebeu como ele

salivava. Em pé, ao lado dele, comoveu-se diante daquele órfão desconhecido.

– Filho, você gostaria de comer algumas rosquinhas?

O menino se assustou. Nem percebera a presença do homem a

observá-lo, tão absorto estava na sua contemplação.

– Sim, respondeu. Eu gostaria.

O soldado entrou na confeitaria e comprou uma dúzia de rosquinhas.

Colocou-as dentro de um saco de papel e se dirigiu ao local

onde o menino se encontrava, na gélida e nevoenta manhã de Londres.

Sorriu e lhe entregou as rosquinhas, dizendo de forma descontraída:

– Aqui estão as rosquinhas.

Virou-se para se afastar. Entretanto, sentiu um puxão em sua

farda. Olhou para trás e ouviu o menino perguntar, baixinho:

– Moço, você é Deus?

As 20 reflexões de um sonho que não tem fim

Em diversas situações, pequenos gestos significam muito para

algumas vidas.

“Jamais subestime o poder de suas ações.

Com um pequeno gesto você pode mudar a vida

de uma pessoa. Para melhor ou para pior.”

Alex Cardoso de Melo

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 21

A IMPORTÂNCIA DO HORIZONTE

Certa vez, uma pessoa chegou no céu e queria falar com Deus,

porque segundo o seu ponto de vista, havia uma coisa na criação que

não tinha nenhum sentido. Deus o atendeu de imediato, curioso por

saber qual era a falha na criação.

– Senhor Deus, sua criação é muito bonita, muito funcional,

cada coisa tem sua razão de ser, mas, no meu ponto de vista, tem uma

coisa que não serve para nada, disse aquela pessoa para Deus.

– E que coisa é essa que não serve para nada? Perguntou Deus.

– É o horizonte. Para que serve o horizonte? Se eu caminho

um passo em direção ao horizonte, ele se afasta um passo de mim. Se

caminho dez passos ele se afasta outros dez passos. Se caminho quilômetros

em direção ao horizonte, ele se afasta os mesmos quilômetros

de mim. Isso não tem sentido. O horizonte não serve para nada.

Deus olhou para aquela pessoa, sorriu e disse:

– É justamente para isso que serve o horizonte meu filho, para

fazê-lo caminhar!

“Toda grande caminhada começa com um simples passo.”

Buda

As 22 reflexões de um sonho que não tem fim

A INVEJA E A COMPETÊNCIA

Marcos era um funcionário extremamente insatisfeito com a

empresa em que trabalhava e seu patrão. Trabalhava há 20 anos na

companhia, era sério, dedicado e cumpridor de suas obrigações.

Um belo dia, ele foi ao dono da empresa para fazer uma reclamação.

Disse que trabalhava ali há 20 anos com toda dedicação, mas,

se sentia injustiçado. O Alexandre, seu colega de departamento, que

havia começado há apenas três anos, estava ganhando muito mais do

que ele.

O patrão fingiu não ouvir e lhe pediu que fosse até a barraca

de frutas da esquina. Ele estava pensando em oferecer frutas como

sobremesa ao pessoal, após o almoço daquele dia, e queria que ele

verificasse se na barraca havia abacaxi.

Marcos não entendeu direito, mas obedeceu. Voltando, muito

rápido, informou que o moço da barraca tinha abacaxi.

Quando o dono da empresa lhe perguntou o preço ele disse

que não havia perguntado. Como também não sabia responder se o

rapaz tinha quantidade suficiente para atender todos os funcionários

da empresa. Muito menos, se ele tinha outra fruta para substituir o

abacaxi, neste caso.

O patrão pediu a Marcos que se sentasse em sua sala e chamou

o Alexandre. Deu a ele a mesma missão que dera para Marcos:

– Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal

hoje. Aqui na esquina tem uma barraca. Vá até lá e verifique se eles

têm abacaxi.

Poucos minutos depois, Alexandre voltou com a seguinte resposta:

– Eles têm abacaxi e em quantidade suficiente para todo o nosso

pessoal. Se o senhor preferir, têm também laranja, banana, melão

e mamão. O abacaxi está R$ 1,50 cada, a banana e o mamão a R$

1,00 o quilo, o melão R$ 1,20 a unidade e a laranja R$ 20,00 o cento,

já descascada.

Como falei que a compra seria em grande quantidade, ele dará

um desconto de 15%. Deixei reservado. Conforme o senhor decidir,

volto lá e confirmo.

Agradecendo pelas informações, o patrão dispensou Alexan-

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 23

dre. Voltou-se para Marcos e perguntou:

– O que você estava querendo falar comigo antes?

Marcos se levantou e se encaminhando para a porta, falou:

– Nada sério, patrão. Esqueça. Com sua licença.

“A causa real da maioria dos nossos grandes problemas

está entre a ignorância e a negligência.”

Goethe

As 24 reflexões de um sonho que não tem fim

A JANELA

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo

quarto de hospital.

Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas

as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões.

A sua cama estava junto da única janela do quarto.

O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.

Os homens conversavam horas a fio.

Falavam das suas mulheres e famílias, das suas casas, dos seus

empregos, onde tinham passado as férias.

E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se

sentava, ele passava o tempo a descrever ao seu companheiro de

quarto, todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da janela.

O homem da cama ao lado começou a viver à espera desses

períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado

por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela.

A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes

chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os

seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados

por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e

enormes acariciavam a paisagem, e a tênue vista da silhueta da cidade,

podia ser vista no horizonte.

Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo

com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto

fechava os seus olhos e imaginava a pitoresca cena.

Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia

a passar.

Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, ele

conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a

refratava através de palavras bastante descritivas.

Dias e semanas passaram.

Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para

os seus banhos e encontrou o corpo sem vida do homem perto da

janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.

Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 25

para que levassem o corpo.

Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se

podia ser colocado na cama perto da janela.

A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.

Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado,

a enfermeira deixou o quarto.

Lentamente e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no

cotovelo, para contemplar o mundo lá fora.

Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora

da janela, que dava, afinal, para uma parede de tijolo!

O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o

seu falecido companheiro de quarto, lhe tivesse descrito coisas tão

maravilhosas do lado de fora da janela.

A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer

conseguia ver a parede. “Talvez ele quisesse apenas dar-lhe coragem”.

“Coração feliz é resultado de um coração repleto de amor.”

Madre Teresa de Calcutá

As 26 reflexões de um sonho que não tem fim

A LENDA DO MONGE E DO ESCORPIÃO

Um monge e seus discípulos iam por uma estrada; quando passavam

por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas.

Imediatamente, o monge correu pela margem do rio, entrou na

água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o escorpião

o picou.

Devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi

então que o monge pegou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez

a correr pela margem, entrou no rio, mais uma vez, colheu o escorpião

e o salvou.

Satisfeito, o monge voltou à ponte e juntou-se a seus discípulos.

Eles, que haviam assistido à cena, o receberam perplexos e penalizados.

Um deles, então falou:

– Mestre, deve estar doendo muito! Mas, porque foi salvar

esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos.

Veja como ele retribuiu à sua ajuda. Picou a mão que o salvava. Não

merecia a sua compaixão!

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu

sereno:

– Ele agiu conforme a sua natureza e eu de acordo com a minha.

“Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.”

Mahatma Gandhi

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 27

A LIÇÃO DO JARDINEIRO

Certo dia, um executivo contratou, pelo telefone, um jardineiro

autônomo para fazer a manutenção do seu jardim.

Chegando em casa, o executivo viu que estava contratando um

garoto de apenas 16 anos de idade. Contudo, como já estava contratado,

ele pediu para que o garoto executasse o serviço.

Quando terminou, o garoto solicitou ao dono da casa permissão

para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir a

conversa.

O garoto ligou para uma mulher e perguntou:

– A senhora está precisando de um jardineiro?

– Não. Eu já tenho um, foi sua resposta.

– Mas, além de aparar a grama, frisou o garoto, eu também tiro

o lixo.

– Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O

meu jardineiro também faz isso.

O garoto insistiu:

– Eu limpo e lubrifico todas ferramentas no final do serviço.

– O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora.

– Eu programo seu atendimento, o mais rápido possível.

– Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente.

Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa.

Numa última tentativa, o menino arriscou:

– O meu preço é um dos melhores.

– Não, disse firme a voz ao telefone. Muito obrigada! O preço

do meu jardineiro também é muito bom.

Desligado o telefone, o executivo disse ao jardineiro:

– Meu rapaz, você perdeu um cliente.

– Claro que não, respondeu rápido. Eu sou o jardineiro dela.

Fiz isto apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo.

“A câmera fotográfica nos retrata por fora,

mas, o trabalho nos retrata por dentro.”

André Luiz

As 28 reflexões de um sonho que não tem fim

A MENINA E O CÃO

Uma menina entra na lojinha de animais e pergunta o preço

dos filhotes à venda.

– Entre cem e trezentos reais, respondeu o dono.

A menina puxou uns trocados do bolso e disse:

– Mas, eu só tenho dez reais. Poderia ver os filhotes?

O dono da loja sorriu e chamou Duquesa, a mãe dos cachorrinhos,

que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo.

Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando

de forma visível.

A menina apontou aquele cachorrinho e perguntou:

– O que é que há com ele?

O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e

descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril, mancaria

e andaria devagar para sempre.

A menina se animou e disse com enorme alegria no olhar:

– Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!

O dono da loja respondeu:

– Não, você não vai querer comprar esse.

Se quiser realmente ficar com ele, eu lhe dou de presente.

A menina emudeceu e, com os olhos marejados de lágrimas,

olhou firme para o dono da loja e falou:

– Eu não quero que você o dê para mim. Aquele cachorrinho

vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.

Na verdade, eu lhe dou dez reais agora e mais dez reais por

mês, até completar o preço total.

Surpreso, o dono da loja contestou:

– Você não pode querer realmente comprar este cachorrinho.

Ele nunca vai poder correr, pular e brincar com você e com os

outros cachorrinhos.

A menina ficou muito séria, acocorou-se e levantou lentamente

a perna esquerda da calça, deixando à mostra a prótese que usava

para andar. Olhou bem para o dono da loja e respondeu:

– Veja, não tenho uma perna, eu não corro muito bem e o cachorrinho

vai precisar de alguém que entenda isso.

O homem estava agora envergonhado e seus olhos se enche-

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 29

ram de lágrimas.

Ele sorriu e disse:

– Filha, só espero e oro para que cada um destes cachorrinhos

tenha uma dona como você.

“Minhas expectativas foram reduzidas a zero quando eu

tinha 21 anos. Tudo, desde então, tem sido um bônus.”

Stephen Hawking

As 30 reflexões de um sonho que não tem fim

A PANELA DE SOPA

Uma antiga lenda judaica diz que certo dia, Deus convidou um

rabino para conhecer o céu e o inferno.

Ao abrirem a porta do inferno, viram uma sala em cujo centro

havia um caldeirão, no qual se cozinhava uma suculenta sopa.

Em volta dele, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.

Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido que

lhe permitia alcançar o caldeirão, mas, não suas próprias bocas. O

sofrimento era imenso.

Em seguida, Deus levou o rabino para conhecer o céu. Entraram

em uma sala idêntica à primeira, onde havia o mesmo caldeirão

com as pessoas à sua volta e colheres de cabo comprido. A diferença

é que todos estavam saciados.

Eu não compreendo disse o rabino, por que aqui as pessoas

estão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo

igual?

Deus sorriu e respondeu:

– É por que aqui elas aprenderam a dar comida umas às outras.

“Democracia serve para todos ou não serve para nada.”

Betinho

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 31

A PEDRA NO CAMINHO

Conta-se a lenda de um rei que viveu num país além-mar há

muito anos. Ele era muito sábio e não poupava esforços para ensinar

bons hábitos ao seu povo. Freqüentemente fazia coisas que pareciam

estranhas e inúteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a ser

trabalhador e cauteloso.

– Nada de bom pode vir à uma nação – dizia ele – cujo povo

reclama e espera que outros resolvam seus problemas. Deus dá as

coisas boas da vida à quem lida com os problemas por conta própria.

Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma enorme pedra

na estrada que passava pelo palácio. Depois foi se esconder atrás

de uma cerca e esperou para ver o que acontecia.

Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada de

sementes que ele levava para moagem na usina.

– Quem já viu tamanho descuido? – disse ele contrariadamente,

enquanto desviava sua parelha e contornava a pedra.

– Por que esses preguiçosos não mandam retirar essa pedra da

estrada? E continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas, sem

ao menos tocar, ele próprio, na pedra.

Logo depois, um jovem soldado veio cantando pela estrada. A

longa pluma de seu quepe ondulava na brisa e uma espada reluzente

pendia à sua cintura. Ele pensava na maravilhosa coragem que mostraria

na guerra.

O soldado não viu a pedra, tropeçou nela e se estatelou no

chão poeirento. Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada

e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente haviam largado

uma pedra imensa na estrada. Então, ele também se afastou, sem

pensar uma única vez que ele próprio poderia retirar a pedra.

Assim correu o dia. Todos que por ali passavam reclamavam e

resmungavam por causa da pedra colocada na estrada, mas, ninguém

a tocava.

Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá passou.

Era muito trabalhadora e estava cansada, pois, desde cedo andava

ocupada no moinho.

Mas, disse a si mesma:

– Já que esta quase escurecendo, alguém pode tropeçar nesta

As 32 reflexões de um sonho que não tem fim

pedra à noite e se ferir gravemente. Vou tirá-la do caminho.

E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas, a moça

empurrou e empurrou, e puxou, e inclinou, até que conseguiu tirá-la

do lugar. Para a sua surpresa encontrou uma caixa debaixo da pedra.

Ergueu a caixa. Era pesada, pois, estava cheia de alguma coisa.

Havia na tampa os seguintes dizeres:

– Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.

Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.

A filha do moleiro foi para casa com o coração feliz. Quando o

fazendeiro, o soldado e todos os outros que ouviram o que havia ocorrido,

juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedra estava.

Revolveram o pó da estrada com os pés, na esperança de encontrar

um pedaço de ouro.

– Meus amigos - disse o rei - com freqüência encontramos

obstáculos e fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bom

som, enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou podemos

erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente

o preço da preguiça.

Então, o sábio rei montou em seu cavalo e com um delicado

boa noite retirou-se.

“No meio de toda dificuldade existe sempre uma oportunidade.”

Albert Einstein

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 33

A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO

Conta-se que, um dia, um homem parou na frente de um pequeno

bar, tirou do bolso um metro, mediu a porta e falou em voz

alta:

– Dois metros de altura, por oitenta centímetros de largura.

Admirado mediu-a de novo.

Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira

vez. E assim, tornou a medi-la diversas vezes.

Curiosas, as pessoas que por ali passavam, começaram a parar.

Primeiro, um pequeno grupo, depois, um grupo maior, por

fim, uma multidão.

Voltando-se para os curiosos, o homem exclamou, visivelmente

impressionado:

– Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura

e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o

meu dinheiro, meu carro, o pão dos meus filhos, passaram os meus

móveis e a minha casa. E não foram só os bens materiais. Por ela

também passou a minha saúde, passaram as esperanças de minha

esposa, passou toda a felicidade e prosperidade do meu lar. Além

disso, passaram também a minha dignidade, minha honra, meus sonhos

e meus planos. Sim, senhores, todos os meus planos de construir

uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia, gole por

gole. Hoje, eu não tenho absolutamente mais nada. Nem família,

nem saúde, nem esperança. Mas, quando passo pela frente desta porta,

ainda ouço o chamado daquela que é a responsável pela minha

desgraça. Ela ainda me chama insistentemente: Só mais um trago! Só

hoje! Uma dose, apenas! Sim, essa era a senha. Essa era a isca. E

mais uma vez eu caía na armadilha, dizendo comigo mesmo:

“quando eu quiser, eu paro”. Isso é o que muita gente pensa, mas,

somente pensa. Hoje, eu sou um trapo humano. A bebida, bem, a

bebida continua fazendo as suas vítimas. Por isso é que eu lhes digo,

senhores: esta porta é a porta mais larga do mundo! Ela tem enganado

muita gente. Por esta porta, que pode ser chamada de porta do

vício, de aparência tão estreita, simples e inofensiva pode passar tudo

o que se tem de mais valioso na vida.

Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos

As 34 reflexões de um sonho que não tem fim

lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos

para profundas reflexões.

“Todo vício tende a justificar-se.”

Friedrich Nietzsche

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 35

A PORTA NEGRA

Há algumas gerações atrás, durante uma das mais turbulentas

guerras no Oriente Médio, um general persa capturou um espião e o

condenou à morte.

O general, um homem de grande inteligência e compaixão havia

adotado um estranho costume em tais casos. Ele permitia ao condenado

que escolhesse. O prisioneiro podia enfrentar um pelotão de

fuzilamento ou podia atravessar a “porta negra”.

Um pouco antes da execução, o general ordenava que trouxessem

o espião à sua presença para uma breve e final entrevista, sendo

seu principal objetivo saber qual seria sua resposta: o pelotão de fuzilamento

ou a “porta negra”.

Esta não era uma decisão fácil e o prisioneiro vacilava e preferia,

invariavelmente, o pelotão ao desconhecido e aos espantosos

horrores que poderiam estar por detrás da tenebrosa e misteriosa

“porta negra”. Momentos após, se escutava o rajar das balas que davam

cumprimento à sentença. O general, com os olhos fixos em suas

bem polidas botas, voltava-se para o seu ajudante de ordens e dizia:

– Eis ali o que é o homem, prefere o mal conhecido ao desconhecido.

É uma característica dos humanos temer o incerto. Você vê,

eu disse a ele para escolher.

– Afinal, o que existe atrás da “porta negra? Perguntou seu

ajudante de ordens.

– A liberdade – respondeu o general – e poucos têm sido os

homens que tiveram o valor de decidir-se por ela.

“Aquilo que pedimos aos céus, muitas vezes

se encontra em nossas mãos.”

William Shakespeare

As 36 reflexões de um sonho que não tem fim

A PRINCESA NOLA

Havia uma linda princesa chamada Nola. Todos os dias, quando

o sol estava para se pôr, ela cantava em gratidão por mais um dia.

E todo o reino silenciava para ouvir sua linda canção. Todos sentiam

uma grande paz.

As crianças amavam a voz de Nola. A sua voz era um símbolo

de amor dentro do reino.

Um dia, a voz de Nola silenciou. Nola não conseguia falar e

nem cantar e ninguém sabia o porquê.

O rei muito preocupado, pediu ajuda a todos os sábios do reino

na tentativa de recuperar a voz de Nola.

Alguns traziam receitas caseiras, ervas consideradas milagrosas,

outros oravam. Mas nada surtia efeito e, assim, o reino caiu em

profunda tristeza. As tardes já não eram tão especiais sem o canto de

Nola.

E o tempo foi passando...

Nola não era mais vista ao entardecer, e o rei estava em prantos

pela dor de sua filha.

Numa noite fria, o rei ouviu batidas na porta do castelo e ele

próprio foi abri-la. Quando viu um mendigo a pedir por comida:

– Senhor dá-me de comer, tenho muita fome.

O rei, vendo o pobre homem, ordenou que dessem de comer

ao mendigo.

E então o mendigo disse ao rei:

– És um homem tão bondoso! Deste-me de comer quando eu

mais precisava. Como posso retribuir tamanha generosidade?

E o rei, tristonho, olhou para a noite fria e disse:

– Não há nada que possas fazer. O meu maior desejo, ninguém

pode realizar. Vá com Deus.

E assim, o mendigo saiu do castelo muito agradecido.

No dia seguinte o Rei ouviu sua filha chamá-lo. Subiu às pressas

a escadaria do castelo e não acreditou ao ver que Nola havia recuperado

sua voz.

O reino inteiro festejou pelo milagre ocorrido com Nola. Poderiam

ouvir sua voz ao entardecer e os dias seriam felizes novamente.

E o rei, em sua tamanha alegria, começou a questionar quem

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 37

teria feito tal milagre. Foi quando lembrou-se do mendigo que havia

estado em seu castelo na noite anterior. Ele tinha um olhar diferente

quando falou em retribuir ao rei pela comida dada.

Sim, procurem aquele homem, por que, se foi ele quem fez tal

milagre, devo agradecer-lhe.

E então, saíram em busca do mendigo e o encontraram na floresta:

– És o mendigo que o rei procura?

E o mendigo falou:

– Como está o rei?

Então, és tu quem realizou o milagre? Como conseguiste?

– Nada fiz senhor. Apenas pedi a Deus com amor, que desse

ao rei o que lhe faltava. E quando pedimos com amor, nem mesmo

Deus pode nos negar, pois, sendo Ele o amor, como poderia contrariar

o Seu próprio pedido?

“Escreva suas mágoas em areia, sua gratidão em mármore.”

Benjamin Franklin

As 38 reflexões de um sonho que não tem fim

A VERDADEIRA RIQUEZA

Um dia, um rico pai de família levou seu filho para viajar para

o interior com o firme propósito de mostrar o quanto as pessoas podem

ser pobres.

Eles passaram um dia e uma noite no sitio de uma família muito

pobre. Quando retornaram da viagem o pai perguntou ao filho:

– Como foi a viagem?

– Muito boa papai!

– Você viu como as pessoas pobres podem ser? - o pai perguntou.

– Sim.

– E o que você aprendeu? - o pai perguntou.

O filho respondeu:

– Eu vi que nós temos um cachorro em casa, e eles têm quatro.

Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim, eles têm um

riacho que não tem fim. Nós temos uma varanda coberta e iluminada

com luz, eles têm as estrelas e a lua. Nosso quintal vai até o portão

de entrada, eles têm uma floresta inteira.

Quando o pequeno garoto estava acabando de responder, seu

pai já estava estupefato, e seu filho acrescentou:

– Obrigado pai por me mostrar quanto “pobre” nós somos!

“A verdadeira riqueza não consiste em termos grandes posses,

mas, em termos poucas necessidades.”

Alex Cardoso de Melo

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 39

A VIDA É UM ESPELHO

Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento.

Chovia forte e já era noite. Mas, percebeu que ela precisava

de ajuda. Assim parou seu carro e se aproximou.

O carro dela cheirava a tinta, de tão novinho. Mesmo com o

sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém

tinha parado para ajudar. Ele iria aprontar alguma?

Ele não parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pode ver

que ela estava com muito medo e disse:

– Eu estou aqui para ajudar madame, não se preocupe. Por que

não espera no carro onde está quentinho? A propósito, meu nome é

Rodrigo.

Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas, para uma

senhora de idade avançada era ruim o bastante.

Rodrigo abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Ele

já estava trocando o pneu. Mas, ficou um tanto sujo e feriu uma das

mãos. Enquanto fixava a roda ela abriu a janela e começou a conversar

com ele. Contou que era de São Paulo e que só estava de passagem

por ali e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda.

Rodrigo apenas sorriu enquanto se levantava.

Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito

pouco para ela. Já tinha imaginado todos as terríveis coisas que poderiam

ter acontecido, se Rodrigo não tivesse parado e ajudado.

Rodrigo não pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho

para ele. Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus

já lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe

ocorreu agir de outro modo. E respondeu:

– Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que encontrar

alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda de que

ela precisar. E acrescentou: e lembre-se de mim.

Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi.

Tinha sido um dia frio e deprimente, mas, ele se sentia bem,

indo para casa, desaparecendo no crepúsculo.

Alguns quilômetros abaixo, a senhora parou seu carro num

pequeno restaurante e entrou para comer alguma coisa.

Era um restaurante muito simples. A garçonete veio até ela e

As 40 reflexões de um sonho que não tem fim

trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o cabelo

molhado e lhe dirigiu um doce sorriso, um sorriso que mesmo

os pés doendo por um dia inteiro de trabalho, não pode apagar.

A senhora notou que a garçonete estava com oito meses de

gravidez, mas, ela não deixou a tensão e as dores mudarem a sua atitude.

Ela ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco,

podia tratar tão bem a um estranho. Então, lembrou-se de Rodrigo.

Depois que terminou a sua refeição, enquanto a garçonete buscava

troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou.

Já tinha partido quando a garçonete voltou. Ela queria saber

onde a senhora poderia ter ido, quando notou algo escrito no guardanapo,

sob o qual tinha mais quatro notas de cem reais.

Existiam lágrimas em seus olhos quando leu o que a senhora

escreveu. Dizia:

– Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me

ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente

quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe este círculo de

amor terminar com você, ajude alguém.

Bem, haviam mesas para limpar, açucareiros para encher, e

pessoas para servir, e a garçonete voltou ao trabalho.

Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama,

seu marido já estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiro

e no que a senhora deixou escrito.

Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam

disto? Com o bebê que estava para nascer no próximo mês,

como estava difícil!

Ficou pensando na bênção que havia recebido, deu um grande

sorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o preocupado marido que

dormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou:

– Tudo ficará bem; eu te amo Rodrigo!

A vida é assim, um espelho. Tudo o que você transmite volta

para você, e geralmente em dobro.

“Se os seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois

eles estão no lugar certo. Agora, construa os alicerces.”

William Shakespeare

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 41

AMOR EM UMA LATA DE LEITE

Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes de uma favela -

um deles de cinco anos e o outro de dez - iam pedindo um pouco de

comida pelas casas de uma das ruas de São Paulo.

– Estavam famintos!

– Vai trabalhar e não amole, ouvia-se detrás da porta.

– Aqui não tem nada neguinho, dizia outro.

As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças.

Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes:

– Vou ver se tenho alguma coisa para vocês garotinhos! E voltou

com uma latinha de leite.

Que festa! Ambos se sentaram na calçada.

O menorzinho disse para o de dez anos:

– Você é mais velho, tome primeiro. E olhava para ele com

seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.

O irmão mais velho leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber,

aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só

gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão:

– Agora é sua vez. Só um pouco. E o irmãozinho, dando um

grande gole exclama: como está gostoso!

– Agora eu, diz o mais velho. E levando a latinha, já meio vazia,

à boca, não bebe nada.

Agora você, agora eu, agora você, agora eu... E, depois de três,

quatro ou cinco goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho,

com a camisa de fora, esgota o leite todo, ele sozinho.

E então, aconteceu algo extraordinário. O mais velho começou

a cantar, a dançar, a jogar futebol com a lata de leite vazia.

Estava radiante, o estômago vazio, mas, o coração trasbordante

de alegria. Pulava, com a naturalidade de quem não fez nada de

extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado

a fazer coisas extraordinárias, sem dar-lhes maior importância.

“A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.”

Mahatma Gandhi

As 42 reflexões de um sonho que não tem fim

AQUILO QUE O CORAÇÃO CARREGA

Conta uma popular lenda do Oriente Próximo, que um jovem

chegou a beira de um oásis junto a um povoado e aproximando-se de

um velho perguntou-lhe:

– Que tipo de pessoa vive neste lugar?

Por sua vez perguntou o ancião:

– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem?

– Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz -

estou satisfeito de haver saído de lá.

A isso o velho replicou:

– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.

No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber

água e vendo o ancião perguntou-lhe:

– Que tipo de pessoa vive por aqui?

O velho respondeu com a mesma pergunta:

– Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?

O rapaz respondeu:

– Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras.

Fiquei muito triste por ter de deixá-las.

– O mesmo encontrará por aqui, respondeu o ancião.

Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou:

– Como é possível responder tão diferente à mesma pergunta?

Ao que o velho respondeu:

– Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que

vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou,

não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou

amigos ali, também os encontrará aqui porque, na verdade, a

nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos

manter controle absoluto.

“Sempre temos a possibilidade de mudarmos as nossas vidas

e as atitudes de todos àqueles que nos cercam,

simplesmente mudando a nós mesmos.”

Alex Cardoso de Melo

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 43

AS CICATRIZES DO DESCONTROLE

Naquele dia de sol, Antônio chegou feliz e estacionou o reluzente

caminhão em frente à porta de sua casa. Após 20 anos de muita

economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele

conseguiu: comprou um caminhão.

Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua

aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.

Ao chegar próximo do caminhão, uma cena o deixou descontrolado.

Seu filho de apenas seis anos estava martelando alegremente

a lataria do caminhão.

Irritado e aos berros, ele investiu contra o pequeno filho. Tomou

o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou

as mãozinhas do garoto.

Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a

chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.

Na seqüência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos

levaram o filho ao hospital, para fazer curativos.

O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser

muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal

estrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.

Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e

lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e

os dedinhos tiveram que ser amputados.

De resto, falou o médico, a criança era forte e tinha resistido

bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguardá-lo no quarto, para

onde logo mais seria conduzido.

Com um aperto no coração, os pais esperaram que a criança

despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o menino

abriu um sorriso e falou:

– Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão,

como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo.

O pai, com lágrimas a escorrer pela face, se aproximou do pequeno

inocente e disse que não tinha a menor importância o que ele

havia feito. Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido

estragada.

O menino insistiu:

As 44 reflexões de um sonho que não tem fim

– Quer dizer que não está mais bravo comigo?

– Não, mesmo, falou o pai.

– Então, perguntou o garoto, se estou perdoado, quando é que

meus dedinhos vão nascer novamente?

“Quando um país deixa maltratar e matar crianças,

é porque começou seu suicídio como sociedade.”

Betinho

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 45

AS LIÇÕES DE UM LÁPIS

O pequeno menino olhava atentamente a sua avó escrevendo

uma carta.

A certa altura perguntou:

– Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco?

É uma história sobre mim?

A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

– Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, muito

mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Eu

gostaria que você fosse como ele, quando crescesse e se torna-se um

belo rapaz.

O menino olhou para o lápis, extremamente intrigado e não

viu nada de especial.

– Mas vovó, ele é igual a todos os lápis que eu já vi em minha

vida!

– Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco

qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma

pessoa em paz com o mundo.

– Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas,

não deve esquecer nunca que existe uma mão que guia seus passos.

Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em

direção à Sua vontade.

– Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que

estou escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra

um pouco, mas no final, ele está mais afiado e com uma nova ponta.

Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma

pessoa melhor.

– Terceira qualidade: o lápis permite que usemos uma borracha

para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma

coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, muito pelo contrário,

é algo importante para sempre nos manter no caminho da justiça.

– Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a

madeira ou sua forma exterior, mas, a grafite que está dentro. É ela

que o faz escrever e desenhar. Portanto, sempre cuide daquilo que

acontece dentro de você.

As 46 reflexões de um sonho que não tem fim

– Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa

uma marca por onde passa. Da mesma maneira, saiba que tudo que

você fizer em sua vida irá deixar traços, e procure ser consciente de

cada ação.

“Ajudemos a criança!

O berço é o ponto vivo em que a educação começa a brilhar.”

Bezerra de Menezes

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 47

AS PEQUENAS DÁDIVAS

A família, constituída do pai e um filho menor era pobre, vivendo

com os poucos recursos financeiros que o pai ganhava no trabalho

de vigilância noturna.

Certo dia, o pai adoeceu, ficando acamado por tempo mais

longo do que podiam suportar suas economias.

Com falta do que comer em casa, o filho pequeno saiu às ruas

pedindo comida para ele e para o pai doente.

Escondendo as lágrimas pela tristeza e pela preocupação, passou

o primeiro dia sem nada conseguir.

No segundo dia, quase ao anoitecer, enquanto revirava um

saco com lixo residencial em frente a uma loja que estava encerrando

o expediente, viu se aproximar um senhor de meia idade, sorridente,

com ar bondoso, que trazia nas mãos uma pequena marmita, bem

quentinha, que lhe ofereceu.

Meio receoso, o menino segurou a marmita ouvindo a recomendação

do seu benfeitor:

– Coma enquanto está quente!

– Muito obrigado senhor, mas, gostaria de ir comê-la em casa,

para repartir com meu pai. Disse o menino.

Sorridente e paternal, o lojista perguntou-lhe:

– O que o seu pai faz em casa, enquanto você sai por aí procurando

o que comer? Ele não trabalha?

– Trabalha sim, e muito. Mas, há dias está acamado. Como

acabou o dinheiro para comprar comida, fui obrigado a sair pedindo

um pedaço de pão. Só que não tenho recebido quase nada. Respondeu

o pequeno andarilho.

– Você mora muito longe daqui? Continuou o bom senhor.

– Não, não. Em pouco tempo eu chego lá. E sei que a comida

ainda estará bem quentinha. Apressou-se em dizer o menino, com

olhos um pouco mais alegres.

– Quer saber, meu pequeno, eu vou até lá com você, se você

deixar. Assim, aprendo onde você mora e aproveito para conhecer

seu pai. Que tal? Acrescentou o jovem senhor.

O menino concordou e lá se foram os dois.

O quadro, com que se deparou o dadivoso lojista, ao entrar no

As 48 reflexões de um sonho que não tem fim

barraco, era de lastimar.

No entanto, pai e filho sorriam diante do alimento, que o menino

rapidamente dividiu em dois pratos e serviu logo ao chegar em

casa.

Depois que os dois terminaram a rápida refeição, a primeira

nos últimos dois dias, o nobre comerciante despediu-se e retornou ao

seu lar, prometendo voltar em breve.

Alguns dias se passaram, quando, também num final de tarde,

entram na loja o menino e seu pai, este um pouco mais disposto, procurando

pelo dono.

Vieram para agradecer, disseram à jovem senhora que estava

atendendo no balcão, ao tempo que queriam saber o que poderiam

fazer para retribuir a dádiva da comida limpa e quentinha, que haviam

recebido dele.

Enquanto seu pai falava com a atendente, o menino começou a

juntar pedaços de papel que estavam no chão, quando chegou o dono

da loja, marido da senhora que os atendia.

Alegria, abraços e boa conversa. Ao se despedirem, o lojista

olha demoradamente para o menino e lhe diz:

– Meu pequeno, você não tem o que me agradecer, eu apenas

fiz o que faria por um filho meu. Fico feliz de ter podido ajudar. No

entanto, se você quiser, poderá vir trabalhar comigo, ajudando-me na

loja, assim, não será preciso você sair por aí pedindo comida, caso o

seu pai volte a adoecer. Que tal?

O menino timidamente olhou para o seu pai, como a perguntar

com o olhar: e aí, o que eu digo?

O pai, discretamente lhe fez um sinal afirmativo com a cabeça,

sem nada falar.

A partir daí, o menino começou trabalhar. Passado um tempo,

voltou para a escola, e continuou trabalhando.

Cresceu, tornou-se adulto e, na loja continuava a trabalhar.

Sempre com muita seriedade, responsabilidade e espírito de gratidão.

Seu pai veio a falecer, devido a idade avançada.

O casal de lojistas não tinha filhos. Com o tempo, chegou a

velhice dos dois. Logo mais, a esposa também falecera.

E aquele pequeno menino, agora já um homem, foi quem ficou

cuidando da loja e também do bondoso lojista, amparando-o na velhice,

auxiliando-o na enfermidade, acompanhando-o no dia-a-dia,

como devotado filho.

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 49

E pensar que tudo começou com um prato de comida!

Uma pequena dádiva, modificando destinos.

Um sorriso, um gesto de carinho, um telefonema, um abraço,

um beijo, uma palavra de apoio e de incentivo, uma flor, um bilhete,

um aceno, um bombom, um copo com água, um pedaço de pão.

Nós podemos fazer muito, com tão pouco...

“Nós não podemos criar uma outra alma, mas podemos

despertar a alma que está adormecida.”

Janusz Korczak

As 50 reflexões de um sonho que não tem fim

AS QUATRO ESTAÇÕES

Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos aprendessem

a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele

mandou cada um em uma viagem, para observar uma parreira que

estava plantada em um distante local.

O primeiro filho foi lá no inverno, o segundo na primavera, o

terceiro no verão e o quarto e mais jovem, no outono.

Todos eles partiram e quando retornaram, o pai os reuniu, e

pediu que cada um descrevesse o que tinham visto.

O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida.

O segundo filho disse que não, que ela era recoberta de botões

verdes e cheia de promessas.

O terceiro filho discordou; disse que ela estava coberta de flores,

que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria

dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.

O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore

estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas.

O homem então explicou a seus filhos que todos eles estavam

certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore.

Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa,

por apenas uma estação, e que a essência de quem ela é, o prazer, a

alegria e o amor que vêm daquela vida podem apenas ser medidos ao

final, quando todas as estações estão completas.

Se você desistir quando for inverno, você perderá a promessa

da primavera, a beleza de seu verão, a expectativa do outono.

Não permita que a dor de uma estação destrua a alegria de todas

as outras. Não julgue a vida apenas por uma estação difícil. Persevere

através dos caminhos difíceis, e melhores tempos certamente

virão de uma hora para a outra.

“A verdade jamais se torna erro pelo fato de ninguém a ver.”

Mahatma Gandhi

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 51

AS TRÊS PENEIRAS

Um homem foi ao encontro de Sócrates, levando ao filósofo

uma informação que julgava de seu interesse:

– Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!

– Espera - disse o sábio - antes de contar-me, quero saber se

fizeste passar essa informação pelas três peneiras.

– Três peneiras? Que queres dizer?

– Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces,

preste bastante atenção.

– A primeira é a peneira da verdade. Tens certeza de que isso

que queres dizer-me é verdade?

– Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se

é verdade.

– A segunda peneira é a da bondade. Com certeza, deves ter

passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?

Envergonhado, o homem respondeu:

– Devo confessar que não.

– A terceira peneira é a da utilidade. Pensaste bem se é útil o

que vieste falar a respeito do meu amigo?

– Útil? Na verdade, não.

– Então - disse-lhe o sábio - se o que queres contar-me não é

verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas

para ti.

“Antes de começar a criticar os defeitos dos outros,

enumere ao menos dez dos teus.”

Abraham Lincoln

As 52 reflexões de um sonho que não tem fim

AUXÍLIO MÚTUO

Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam

dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto

possível contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quando

foram surpreendidos por uma criança semi-morta na estrada, ao

sabor da ventania de inverno.

Um deles, fixou o singular achado e exclamou, irritadiço:

– Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo

mesmo. Sigamos à frente.

O outro, porém, mais piedoso, considerou:

– Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.

– Não posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado

e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Precisamos

chegar à aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou

para adiante em largas passadas.

O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o

menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente

ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante,

embora mais lentamente.

A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando

o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria

do povoado que buscava.

Com enorme surpresa, porém, não encontrou o colega que havia

seguido na frente.

Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o

infeliz viajante encontrado já sem vida numa vala do caminho completamente

alagado.

Seguindo a pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se,

não resistiu a onda de frio que se fizera violenta e com o aumento da

intensidade da chuva, tombou encharcado, sem recursos com que

pudesse fazer face ao congelamento.

Enquanto que o bondoso companheiro, recebendo em troca o

suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou

os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre.

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 53

Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino

abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para

ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando

as bênçãos da salvação recíproca.

“As atitudes são muito mais importantes do que os fatos.”

Alexander Fleming

As 54 reflexões de um sonho que não tem fim

CENOURAS, OVOS E CAFÉ

Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as

coisas estavam difíceis para ela.

Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada

de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava

resolvido um outro surgia.

Seu pai, um “chef”, levou-a até a cozinha dele. Encheu três

panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto.

Logo, as panelas começaram a ferver. Numa ele colocou cenouras,

noutra colocou ovos e na última, pó de café. Deixou que tudo

fervesse, sem dizer uma palavra.

A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando

o que ele estaria fazendo.

Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás.

Pescou as cenouras e colocou-as numa tigela. Retirou os ovos e colocou-

os em outra tigela. Então pegou o café com uma concha e colocou-

o numa xícara.

Virando-se para ela, perguntou:

– Querida, o que você está vendo?

– Cenouras, ovos e café - ela respondeu.

Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as

cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.

Então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu

e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com

a fervura.

Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela

sorriu ao provar seu aroma delicioso.

Então, ela perguntou humildemente:

– O que isto significa, pai?

Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade,

água fervendo, mas, que cada um reagira de maneira diferente.

A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas, depois de ter

sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil.

Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido

interior. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 55

interior se tornou mais rijo.

O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado

na água fervente, ele havia mudado a água.

– Qual deles é você? - ele perguntou à sua filha.

Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde?

Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?

“Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la

como se os milagres não existissem. A segunda é

vivê-la como se tudo fosse um milagre.”

Albert Einstein

As 56 reflexões de um sonho que não tem fim

CONSTRUINDO PONTES

Dois irmãos, que moravam em fazendas vizinhas, separadas

apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira desavença

em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas, agora tudo havia

mudado. O que começou com um pequeno mal entendido, explodiu

numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de silêncio.

Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem na sua porta.

Ao abri-la, notou um homem com ferramentas de carpinteiro.

– Estou procurando trabalho - disse ele - talvez você tenha

algum serviço para mim.

– Sim, claro! - disse o fazendeiro - vê aquela fazenda ali, além

do riacho? É do meu vizinho. Na realidade do meu irmão mais novo.

Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira

ali no celeiro? Pois a use para construir uma cerca bem alta.

– Acho que entendo a situação - disse o carpinteiro.

O irmão mais velho entregou o material necessário para a obra

e foi para a cidade. O homem ficou ali trabalhando o dia inteiro.

Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez da

cerca, uma ponte fora construída, ligando as duas margens do riacho.

Era um belo trabalho, mas, o fazendeiro ficou enfurecido e falou:

– Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que

lhe contei.

Mas, as surpresas não pararam aí. Ao olhar novamente para a

ponte viu seu irmão se aproximando de braços abertos. Por um instante

permaneceu imóvel do seu lado do rio. Mas, de repente, num só

impulso, correu na direção do outro e abraçaram-se no meio da ponte.

Enquanto isso, o carpinteiro que fez o trabalho ia partindo.

– Espere, fique conosco! Disse o irmão mais velho.

E o carpinteiro respondeu:

– Eu adoraria, mas tenho outras pontes para construir.

“Não se deve interromper o diálogo, porque muitas vezes,

o silêncio, envenena as relações.”

Roberto Marinho

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 57

DANDO O MELHOR

Muitas coisas se falam a respeito de Beethoven. O fato de ter

composto extraordinárias sinfonias, mesmo após a total surdez, é

sempre recordado.

Exatamente por causa de sua surdez, ele era pouco sociável.

Enquanto pôde, escondeu o fato de sua audição estar comprometida.

Evitava as pessoas, porque a conversa se lhe tornara uma prática difícil

e humilhante. Era o atestado público da sua deficiência auditiva.

Certo dia, um amigo de Beethoven foi surpreendido pela morte

súbita de seu filho. Assim que soube, o músico correu para a casa

dele, pleno de sofrimento.

Beethoven não tinha palavras de conforto para oferecer. Não

sabia o que dizer. Percebeu, contudo, que num canto da sala havia

um piano.

Durante 30 minutos, ele extravasou suas emoções da maneira

mais eloqüente que podia. Tocou piano. Ao contato dos seus dedos,

as teclas acionadas emitiram lamentos e melodiosa harmonia de consolo.

Assim que terminou, ele foi embora. Mais tarde, o amigo comentou

que nenhuma outra visita havia sido tão significativa quanto

aquela.

Na ausência de palavras, Beethoven deixou que falassem os

seus mais sinceros sentimentos.

“Não existe verdadeira inteligência sem bondade.”

Ludwig van Beethoven

As 58 reflexões de um sonho que não tem fim

DEFICIÊNCIAS

Você realmente sabe o que é uma pessoa deficiente?

Pois, aqui vão algumas definições interessantes:

Deficiente - É aquele que não consegue modificar sua vida,

aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que

vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

Louco - É quem não procura ser feliz com o que possui.

Cego - É aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de

fome, na miséria, infeliz e só tem olhos para seus míseros problemas

e pequenas dores.

Surdo - É aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de

um amigo ou o apelo de um irmão, pois, está sempre apressado para

o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

Mudo - É aquele que não consegue falar o que sente e se esconde

por trás da máscara da hipocrisia.

Paralítico - É quem não consegue andar na direção daqueles

que precisam de sua ajuda.

Diabético - É quem não consegue ser doce.

Anão - É quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

Miseráveis - São todos aqueles que não conseguem estender a

mão aos mais necessitados, abandonados e infelizes.

“Falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem.”

Chico Xavier

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 59

DUAS CRIANÇAS

Conta certa lenda, que estavam duas crianças patinando num

lago congelado. Era uma tarde nublada e fria, e as crianças brincavam

despreocupadas.

De repente, o gelo se quebrou e uma delas caiu, ficando presa

na fenda que se formou. A outra, vendo seu amigo preso e se congelando,

tirou um dos patins e começou a golpear o gelo com todas as

suas forças, conseguindo por fim, quebrá-lo e libertar o amigo.

Quando os bombeiros chegaram, e viram o que havia acontecido,

perguntaram ao menino:

– Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha

conseguido quebrar o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!

Nesse instante, um ancião que passava pelo local comentou:

– Eu sei como ele conseguiu.

Todos perguntaram:

– Pode nos dizer como?

E respondeu o idoso:

– É simples, não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer

que não seria capaz.

“Não há barreiras que o ser humano não possa transpor.”

Helen Keller

As 60 reflexões de um sonho que não tem fim

DUVIDANDO DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Um homem foi cortar o cabelo e a barba. Como sempre acontece,

ele e o barbeiro ficaram conversando sobre várias coisas, até

que – por causa de uma notícia de jornal sobre meninos abandonados

– o barbeiro afirmou:

– Como o senhor pode ver, esta tragédia mostra que Deus não

existe.

– Como? Indagou o cliente.

– O senhor não lê jornais? Temos tanta gente sofrendo, crianças

abandonadas, crimes de todo tipo. Se Deus existisse, não haveria

sofrimento.

O cliente ficou pensando, mas, o corte estava quase no fim, e

resolveu não prolongar a conversa. Voltaram a discutir temas mais

amenos, o serviço foi terminado, o cliente pagou e saiu.

Entretanto, a primeira coisa que viu foi um mendigo, com barba

de muitos dias e longos cabelos desgrenhados. Imediatamente,

voltou para a barbearia e falou para o barbeiro que o atendera:

– Sabe de uma coisa? Os barbeiros não existem.

– Como não existem? Eu estou aqui e sou barbeiro.

– Não existem! Insistiu o homem. Porque, se existissem, não

haveria pessoas com barba tão grande e cabelo tão desgrenhado como

o que acabo de ver na esquina.

– Posso garantir que os barbeiros existem. Acontece que este

homem nunca veio até aqui.

– Exatamente! Então, para responder sua pergunta, Deus também

existe. O que acontece é que as pessoas não vão até Ele. Se O

buscassem, seriam mais solidárias e não haveria tanta miséria e infelicidade

no mundo.

“Herege não é aquele que arde na fogueira,

e sim aquele que a acende.”

William Shakespeare

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 61

ECO OU VIDA

Um filho e seu pai caminhavam pelas montanhas. De repente

seu filho, cai, se machuca e grita:

– Ai!

Para sua surpresa escuta a voz se repetir, em algum lugar da

montanha:

– Ai!

Curioso, pergunta:

– Quem é você?

Recebe como resposta:

– Quem é você?

Contrariado, grita:

– Seu covarde!

Escuta como resposta:

– Seu covarde!

Olha para o pai e pergunta aflito:

– O que é isso?

O pai sorri e fala:

– Meu filho, preste atenção. Então o pai grita em direção a

montanha:

– Eu admiro você!

A voz responde:

– Eu admiro você!

De novo, o homem grita:

– Você é um campeão!

A voz responde:

– Você é um campeão!

O menino fica espantado, não entende.

Então, o pai explica:

– As pessoas chamam isso de eco, mas, na verdade isso é a

vida. Ela lhe dá de volta tudo o que você diz ou faz.

Nossa vida é simplesmente o reflexo das nossas ações. Se você

quer mais amor no mundo, crie mais amor no seu coração.

Se você quer mais competência da sua equipe, desenvolva a sua

competência.

O mundo é somente a prova da nossa capacidade. Tanto no

As 62 reflexões de um sonho que não tem fim

plano pessoal quanto no profissional, a vida vai lhe dar de volta o

que você deu à ela.

Sua vida não é uma coincidência, é a conseqüência das suas

ações!

“Transformem em jardins os campos de batalha.”

São Francisco de Assis

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 63

ENFRENTANDO OS OBSTÁCULOS

Durante anos, um velho fazendeiro tinha arado ao redor de

uma grande pedra, que ficava no centro de um de seus campos de

cultivo. Ele já havia quebrado várias lâminas do arado devido aquela

pedra e tinha cultivado um ódio mórbido por ela.

Um dia, depois de quebrar outro arado e se lembrando de toda

a dificuldade que a pedra lhe tinha causado durante anos, ele decidiu

finalmente fazer algo que resolvesse o problema definitivamente.

Quando pôs uma alavanca debaixo da pedra, foi pego de surpresa

ao descobrir que a pedra tinha apenas poucos centímetros de

espessura, e que ele poderia, facilmente, quebrá-la com uma marreta.

Quando estava carregando os pedaços da pedra ele não se conteve

e começou a rir sozinho, enquanto se lembrava de toda a dificuldade

que a pedra tinha lhe causado durante anos e como teria sido

melhor se tivesse enfrentado o obstáculo inicialmente e quebrado a

pedra mais cedo.

“Obstáculos são aquelas coisas medonhas que você vê,

quando tira os olhos de seu objetivo.”

Henry Ford

As 64 reflexões de um sonho que não tem fim

ESOPO E A LÍNGUA

Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de

um conhecido chefe militar da antiga Grécia.

Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro

sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a

dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:

– Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra

está à venda no mercado.

– Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que está

falando? Como podes afirmar tal coisa?

– Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei

a maior virtude da Terra.

Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns

minutos, voltou carregando um pequeno embrulho.

Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de

língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se.

– Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente,

a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar,

esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinamentos dos filósofos

são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras

dos poetas se tornam conhecidas de todos. Por acaso podeis negar

essas verdades, meu amo?

– Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado,

que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.

– É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de

meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de

toda terra.

Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a alguns

minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro.

Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua.

Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente

resposta:

– Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo

que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando

relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através

dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela,

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 65

as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas

e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através

da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos

prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio

social. Por acaso podeis refutar o que digo? Indagou Esopo.

Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos

os senhores calaram-se, comovidos e o velho chefe, no mesmo instante,

reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como

escravo, deu-lhe a liberdade.

Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador

de fábulas muito conhecido da Antigüidade e cujas histórias até

hoje se espalham por todo mundo.

“O tempo que você for levar para falar mal de alguém,

use-o para falar bem de quem merece.”

Manoel de Nóbrega

As 66 reflexões de um sonho que não tem fim

ESTRELA DO MAR

Era uma vez, um escritor que morava em uma tranqüila praia,

junto de uma colônia de pescadores.

Todas as manhãs, ele caminhava à beira do mar para se inspirar

e à tarde ficava em casa escrevendo.

Certo dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia

dançar.

Ao chegar perto, ele reparou que se tratava de um jovem que

recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente

de volta ao oceano.

– Por que está fazendo isso?, perguntou o escritor.

– Você não vê!, explicou o jovem: a maré está baixa e o sol

está brilhando. Elas irão secar e morrer se ficarem aqui na areia.

O escritor espantou-se.

– Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por

este mundo afora e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas

pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta

ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma.

O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao

oceano, olhou para o escritor e disse:

– Para essa aqui eu fiz a diferença.

Naquela noite o escritor não conseguiu escrever sequer uma

linha, nem conseguiu adormecer. Pela manhã, voltou à praia, procurou

o jovem e uniu-se a ele, juntos, começaram a jogar estrelas-domar

de volta ao oceano.

Sejamos, portanto, mais um dos que querem fazer do mundo

um lugar melhor.

Sejamos a diferença!

“Não importa o quanto fazemos, mas, quanto

amor colocamos naquilo que fazemos.”

Madre Teresa de Calcutá

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 67

EU OUVI UM NÃO

Desde pequena Julia tinha uma paixão: dançar. Ela sonhava

em ser uma grande bailarina do Ballet Bolshoi.

Um dia, Julia teve sua grande chance. Conseguira uma audiência

com um dos maiores mestres do Bolshoi, que estava selecionando

aspirantes para a companhia.

Dançou como se fosse seu último dia na Terra. Colocou tudo

que sentia e que aprendera em cada movimento. Ao final, aproximou-

se do mestre e lhe perguntou:

– Então, o senhor acha que eu posso me tornar uma grande

bailarina?

Na viagem de volta à sua aldeia, Julia, em meio às lagrimas,

imaginou que nunca mais aquele “não” sairia de sua mente.

Dez anos mais tarde Julia, já uma estimada professora de ballet,

criou coragem de ir à performance anual do Bolshoi em sua região.

Sentou-se bem à frente e notou que aquele mesmo senhor ainda

era o mestre.

Após o concerto, aproximou-se do cavalheiro e lhe contou o

quanto doera, anos atrás, ouvir-lhe dizer que não seria capaz de participar

do Bolshoi.

– Mas, minha filha, eu digo isso a todas as aspirantes, respondeu

o mestre.

– Como o senhor poderia cometer uma injustiça dessas? Eu

dediquei toda minha vida! Todos diziam que eu tinha o dom. Eu poderia

ter sido um sucesso se não fosse o descaso com que o senhor

me avaliou!

Havia solidariedade e compreensão na voz do mestre, mas, ele

não hesitou ao responder:

– Perdoe-me, minha filha, mas, você nunca poderia ter sido

grande o suficiente, se você foi capaz de abandonar seu sonho ao

ouvir o primeiro não.

“A persistência é o caminho do êxito.”

Charles Chaplin

As 68 reflexões de um sonho que não tem fim

FLORES NA ESTRADA

Um certo homem morava numa cidade grande e trabalhava

numa fábrica, na região periférica desta metrópole. Todos os dias, ele

pegava o ônibus pela manhã e viajava cinqüenta minutos até o trabalho.

À tardinha fazia a mesma coisa voltando para a casa.

No ponto seguinte ao que o homem subia, entrava uma velhinha,

que procurava sempre sentar próxima à janela. Abria a bolsa,

tirava um pacotinho e passava a viagem toda jogando alguma coisa

para fora do ônibus.

Um dia, o homem reparou na cena e ficou muito curioso. No

dia seguinte, a mesma coisa.

Certa vez, o homem sentou-se ao lado da velhinha e não resistiu:

– Bom dia, desculpe a curiosidade, mas, o que a senhora está

jogando pela janela?

– Bom dia, respondeu a velhinha. Jogo sementes.

– Sementes? Sementes de que?

– De flor. É que eu viajo neste ônibus todos os dias. Olho para

fora e a estrada é tão vazia. Gostaria de poder viajar vendo flores

coloridas por todo o caminho. Imagine como seria bom.

– Mas, a senhora não vê que as sementes caem no asfalto, são

esmagadas pelos pneus dos carros, devoradas pelos passarinhos. A

senhora acha que essas flores vão nascer aí, na beira da estrada?

– Acho, meu filho. Mesmo que muitas sejam perdidas, algumas

certamente acabam caindo na terra e com o tempo vão brotar.

– Mesmo assim, demoram a crescer, precisam de água.

– Ah, eu faço minha parte. Sempre há dias de chuva. Além

disso, apesar da demora, se eu não jogar as sementes, as flores nunca

vão nascer.

Dizendo isso, a velhinha virou-se para a janela aberta e recomeçou

seu “trabalho”. O homem desceu logo adiante, achando que a

velhinha já estava meio caduca.

O tempo passou...

Um certo dia, no mesmo ônibus, sentado próximo à janela, o

homem levou um susto. Olhou para fora e viu margaridas na beira da

estrada, hortênsias azuis, rosas, cravos, dálias. A paisagem estava

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 69

colorida, perfumada e linda.

O homem lembrou-se da velhinha, procurou-a no ônibus e acabou

perguntando para o cobrador, que conhecia todo mundo.

– A velhinha das sementes? Pois é, morreu de pneumonia no

mês passado.

O homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem

florida pela janela. Quem diria, as flores brotaram mesmo, pensou.

Mas, de que adiantou o trabalho da velhinha? A coitada morreu

e não pode ver esta beleza toda.

Nesse instante, o homem escutou uma risada de criança. No

banco da frente, um garotinho apontava pela janela entusiasmado:

– Olha mãe, que lindo, quanta flor pela estrada. Como se chamam

aquelas azuis?

Então, o homem entendeu o que a velhinha tinha feito. Mesmo

não estando ali para contemplar as flores que tinha plantado, a velhinha

devia estar feliz. Afinal, ela tinha dado um presente maravilhoso

para as pessoas. No dia seguinte, o homem entrou no ônibus, sentouse

próximo a uma janela e tirou um pacotinho de sementes do bolso.

“O tempo é algo que não volta atrás, portanto,

plante seu jardim e decore sua alma ao invés

de esperar que alguém lhe mande flores.”

William Shakespeare

As 70 reflexões de um sonho que não tem fim

FRANCISCO E O LOBO

Há muito tempo atrás, Gúbio, uma cidade na Úmbria, Itália,

estava tomada de grande medo. Na floresta da região vivia um grande

lobo, terrível e feroz, o qual, não somente devorava os animais,

como os homens, de modo que todos do povoado estavam apavorados.

Por este motivo, cercaram a cidade com altas muralhas e reforçaram

as portas. Todos andavam armados quando saíam da cidade,

como se fossem para um combate.

Certa vez, quando um homem chamado Francisco chegou naquela

cidade, estranhou muito o medo do povo. Percebeu que a culpa

não podia ser unicamente do lobo. Havia no fundo dos corações uma

outra causa que era tão destrutiva, como parecia ser a causa do lobo.

Logo, Francisco ofereceu-se para ajudar.

Resolveu sair ao encontro do lobo, sozinho e desarmado, mas,

cheio de simpatia e benevolência pelo animal.

O perigoso lobo, de fato, foi ao encontro de Francisco, raivoso

e de boca aberta pronto para devorá-lo!

Mas, quando o lobo percebeu as boas intenções de Francisco e

ouviu como este se dirigia a ele como a um “irmão”, cessou de correr

e ficou muito surpreendido.

As boas vibrações de Francisco de Assis anularam a violência

que havia no “irmãozinho” lobo.

De olhos arregalados, viu que esse homem o olhava com muita

bondade.

Francisco então falou para o lobo:

– Irmãozinho lobo, quero somente conversar com você, caso

você esteja me entendendo, levante, por favor, a sua patinha para

mim!

O irmãozinho lobo, então, perante tão forte vibração de amor e

carinho, perdeu toda a sua maldade. Levantou confiante, a pata da

frente, e calmamente a pôs na mão aberta de Francisco.

Então, Francisco disse-lhe amorosamente:

– Querido irmãozinho lobo, vou fazer um trato com você. De

hoje em diante, vou cuidar de você meu irmão. Você vai morar em

minha casa, vou lhe dar comida e você irá sempre me acompanhar e

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 71

seremos sempre amigos. Você por sua vez, também será amigo de

todas as pessoas desta cidade, pois, de agora em diante você terá uma

casa, comida e carinho, sendo assim, não precisará mais matar nem

agredir ninguém, para sobreviver.

Com a promessa de nunca mais lesar nem homem, nem animal,

foi o lobo com Francisco até a cidade.

Também o povo da cidade abandonou sua raiva e começou a

chamar o lobo de "irmão", prometendo dar-lhe todos os dias o alimento

necessário.

Finalmente, o “irmão lobo” morreu de velhice, pelo que, todos

da cidade tiveram grande pesar.

Ainda hoje se mostra em Gúbio, um sarcófago feito de pedra,

no qual os ossos do lobo estão depositados e guardados com grande

carinho e respeito durante séculos.

“Todas as coisas da criação, são filhos do Pai e irmãos do homem.

Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda.

Todas as criaturas em desgraça têm o mesmo direito

a serem protegidas.”

São Francisco de Assis

As 72 reflexões de um sonho que não tem fim

GRATIDÃO

O homem pôr detrás do balcão olhava à rua de forma distraída.

Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o

vidro da vitrine.

Os olhos, da cor do céu, brilhavam quando viu um determinado

objeto. Entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesa azul.

– É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito?, diz

ela.

O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:

– Quanto de dinheiro você tem?

Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho

e foi desfazer os nós. Colocou-o sobre o balcão e feliz, disse:

– Isso dá?

Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.

– Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha.

Desde que morreu nossa mãe ela cuida da gente e não tem tempo

para ela. É aniversário dela e tenho certeza que ficará feliz com o

colar, que é da cor de seus olhos.

O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um

estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado

com uma fita verde.

– Tome! - disse para a garota. Leve com cuidado.

Ela saiu feliz saltitando pela rua.

Ainda não acabara o dia quando uma linda jovem, de cabelos

loiros e olhos azuis, adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido

embrulho desfeito e indagou:

– Este colar foi comprado aqui?

– Sim senhora, respondeu o homem.

– E quanto custou?

– Ah!, falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da

minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o

cliente.

A moça continuou:

– Mas, minha irmã tinha somente algumas moedas! O colar é

verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo!

ONG Projetos sociais meu sonho não tem fim 73

O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho,

colocou a fita e o devolveu a jovem, dizendo:

– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar.

Ela deu tudo o que tinha.

“Se nossos olhos se afeiçoarem à contemplação da singeleza e da

simplicidade, singelos e simples serão nossos corações.”

Bezerra de Menezes

As 74 reflexões de um sonho que não tem fim

LENÇÓIS SUJOS

Um casal, recém-casados, mudou-se para um bairro muito

tranqüilo.

Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam

café, a mulher reparou em uma vizinha que pendurava len&cc